Quando Albertino fez ecoar sua voz de trovão nas pedras do largo do Café Sofia, entoando para dentro da minha alma o “Oi, Cabo Verde, bô qu’ê nhá dor más sublime…”, não foi o edifício recém remodelado da Reitoria que eu vi por detrás do palco. Nem tampouco a bandeira do país tremeluzindo à brisa suave desta tarde de Novembro, como que acenando às ruas do Plateau carcomidas de tempo e aos presentes enfatiados até aos gorgomilos, sua e nossa história de tantos séculos.
O que eu vi ali foram os olhos grilidos de um miúdo que conheci há alguns dias nos cutelos de Rui Vaz. Olhos abertos de mundo, olhos sedentos de mundo, olhos perscrutando o chão crã do mundo que nos cerca. Os olhos. Ah! Essa minha eterna mania de olhos! Como os olhos de um outro miúdo de palmo e meio – eu! – pisando meio a medo o primeiro dia do saber, na escola de palha de Marrador.
Já se passaram vinte e tantos anos. Da escola de palha de Marrador ao quase-grito de euforia da minha querida ex-professora, hoje feita Ministra de Educação, arremessando-nos ouvido adentro ali na Praça da Escola Grande “temos universidade!”. Temos universidade, sim senhor!, temos sonho feito realidade, temos profecia que nos abraça com ternura, temos utopia que se constrói na voz morna do Albertino, “... nhá vida naci, di disafio di bu clima ingrato...”. E temos memória. Mamãe costurando o rasgo da minha bolsa de fazenda onde acomodava o caderno de vinte escudos, a borracha pequena, o lápis e a caneta bic comprada ali na loja de Ti Bia d’Nivinha em Povoação, mais a batata assada pá matá injum no intervalo das dez horas, antes que viessem as refeições quentes de camoca-com-leite, arroz-com-corned-beef ou canja com galinha. E a professora Dona Bibia abrindo-nos outros mundos – bem maiores que as estórias de bruxa, futcêra, Ti Lobo e Xibim – no abecedário que estendíamos à nossa frente no tampo da carteira.
Temos universidade. E vi ali, na emoção desta frase feito poema em meus ouvidos, também os olhos de Nhô Domingos de Júlia d’Ana, levando-nos de mansinho ao cair da tarde para saciar nossa sede de mundo nas estórias de naufrágios nos mares de Biscaia e de amores de marinheiro em cada porto por esse mundo fora, os prédios nas cidades grandes que quase chegavam ao céu ante nosso espanto de meninos da ilha, e os navios que se alongavam de uma ponta a outra do mar...
O que eu vi ali foram os olhos grilidos de um miúdo que conheci há alguns dias nos cutelos de Rui Vaz. Olhos abertos de mundo, olhos sedentos de mundo, olhos perscrutando o chão crã do mundo que nos cerca. Os olhos. Ah! Essa minha eterna mania de olhos! Como os olhos de um outro miúdo de palmo e meio – eu! – pisando meio a medo o primeiro dia do saber, na escola de palha de Marrador.
Já se passaram vinte e tantos anos. Da escola de palha de Marrador ao quase-grito de euforia da minha querida ex-professora, hoje feita Ministra de Educação, arremessando-nos ouvido adentro ali na Praça da Escola Grande “temos universidade!”. Temos universidade, sim senhor!, temos sonho feito realidade, temos profecia que nos abraça com ternura, temos utopia que se constrói na voz morna do Albertino, “... nhá vida naci, di disafio di bu clima ingrato...”. E temos memória. Mamãe costurando o rasgo da minha bolsa de fazenda onde acomodava o caderno de vinte escudos, a borracha pequena, o lápis e a caneta bic comprada ali na loja de Ti Bia d’Nivinha em Povoação, mais a batata assada pá matá injum no intervalo das dez horas, antes que viessem as refeições quentes de camoca-com-leite, arroz-com-corned-beef ou canja com galinha. E a professora Dona Bibia abrindo-nos outros mundos – bem maiores que as estórias de bruxa, futcêra, Ti Lobo e Xibim – no abecedário que estendíamos à nossa frente no tampo da carteira.
Temos universidade. E vi ali, na emoção desta frase feito poema em meus ouvidos, também os olhos de Nhô Domingos de Júlia d’Ana, levando-nos de mansinho ao cair da tarde para saciar nossa sede de mundo nas estórias de naufrágios nos mares de Biscaia e de amores de marinheiro em cada porto por esse mundo fora, os prédios nas cidades grandes que quase chegavam ao céu ante nosso espanto de meninos da ilha, e os navios que se alongavam de uma ponta a outra do mar...
Temos universidade. Temos outros destinos para outros meninos nos cutelos de Rui Vaz a Fajã Domingas Bentas. Temos história e estórias que agora me chegam enquanto o sono não vêm...
(Foto de Paulino Dias - rapazinho de Rui Vaz, Santiago)
1 comentário:
Óh Pôline!
Diazá é bom kímin dá ninguém rêzon!
Prêbêns repêzin...Bó é um Répez prendóde.
....
Um grande abraço...Estou aqui agarradoa espera do próximo post!
Obrigado!
Sempre k puderes alé també uns dêde de conversa...apesar de "menos" erudito mas acalenta o espirito...uns franzidos de testa exercitam os músculos!
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