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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Último nascer do Sol de 2010

Estava assim a minha Quebra Canela esta manhã:


Foi esta a forma que encontrei para vos dizer...

...Boas Festas e um Feliz 2011!


("Quebra Canela", fotos de PD)

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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Instantâneos

Hoje está assim, minha Cidade enluarada:

Dizia, é preciso amar esta Cidade, caramba!

("Cidade enluarada" - foto de PD, 20/12/2010)

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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Nós e as medidas dos outros

Sabendo que...
1. Portugal é o principal parceiro comercial de Cabo Verde (fonte de 48% das nossas importações e destino de 33% das exportações, em 2009), e que esta dinâmica vem aumentando (ler aqui);
2. Apenas 4 países (Portugal, Países Baixos, Espanha e Brasil) forneceram 79% de todos os bens que importamos em 2009;
3. Um cabaz de apenas 28 produtos (destacando-se gasóleo, ferro e aço, arroz e cimento, entre outros) representaram 60% do total de mercadorias importadas por Cabo Verde em 2009;
4. Da lista indicada no ponto anterior, 7 categorias têm (ou já tiveram) produção local: móveis, cerveja, medicamentos, carne e miudezas de aves, preparados alimentares e frutas;
5. Juntas, estas 7 categorias do "top 28" representaram 8,5% do total das importações, equivalente 4,8 milhões de contos,


Perguntinhas...

I. O que significa, para a nossa balança comercial, o sector privado nacional e a nossa economia como um todo, essas 50 medidas anunciadas ontem pelo Governo português - especialmente as referentes ao primeiro bloco -, a nível de:
a) Ritmo de crescimento das importações oriundas de Portugal nos próximos tempos?
b) Competitividade das nossas empresas, especialmente nos sectores das 7 categorias referidas no ponto 4 acima?
b) Rácio de cobertura das exportações?

II. O que podemos fazer (Governo, Autarquias, sector privado, associações de classe - Câmaras de Comércio, AJEC, etc... - público em geral) para maximizarmos as oportunidades, para Cabo Verde, decorrentes dessas medidas e minimizarmos os eventuais impactos negativos?

É caso para se dizer: dá que pensar...

(Thanks, Carlos, pela dica!).
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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sobre o empreendedorismo e outras provocações...

Agora que o "empreendedorismo" parece ter entrado na moda nessas ilhas, não é demais partilhar aqui convosco algumas insónias, em jeito de provocação para o debate que se impõe.

1. Está a tornar-se já senso comum a ideia de que o crescimento económico e o desenvolvimento dependem muito do fomento do empreendedorismo e, especialmente no que a Cabo Verde diz respeito, do empreendedorismo feminino, considerando o peso que o desemprego tem neste segmento.

2. No entanto, é necessário clarificarmos e separarmos os conceitos de empreendedorismo: por necessidade e por vocação. O empreendedorismo por necessidade, como o próprio nome indica, é "forçado" pelas circunstâncias e pela necessidade de se encontrar vias para garantir o sustento. Apesar do poder deste tipo de empreendedorismo em estimular o nascimento de pequenos negócios - e, consequentemente, aumentar o auto-emprego -, tendencialmente o seu crescimento é limitado (ou estagna-se) assim que esta necessidade de "sobrevivência" é atingida.

3. Dito de outra forma, o empreendedorismo por necessidade na maior parte das vezes não carrega na sua essência a "ambição de crescer" que caracteriza o empreendedorismo por vocação. Por isso, o seu potencial enquanto motor de crescimento económico sustentável a longo prazo é limitado - o que poderia explicar parcialmente, por exemplo, o facto de não obstante a África Subsaariana ser uma região com uma longa tradição de empreendedorismo - por necessidade -, o número de multinacionais surgidas e/ou com sede na África é muito reduzido...

4. Por outro lado, os empreendedores por vocação têm uma necessidade intrínseca de crescer, de inovar, de desafiar o status quo, de experimentar coisas novas - muito além da mera necessidade de sobrevivência. O empreendedor por vocação é naturalmente irrequieto, procura identificar e explorar oportunidades de negócio e de expansão, independentemente da simples satisfação de necessidades básicas de sobrevivência. Este tipo de empreendedorismo, por isso, tem um efeito positivo muito maior no ritmo e natureza do crescimento económico de um país ou uma região. A promoção, portanto, de uma cultura empreendedora (por vocação) no seio de um determinado grupo tem um resultado potencial maior na medida em que estimula as pessoas a terem ambição. A crescerem. A se expandirem, a não se limitarem à busca de meras soluções para assegurar os "três por dia".

4. Em resumo, poderíamos dizer que o empreendedorismo por necessidade REDUZ A POBREZA, enquanto o empreendedorismo por vocação PROMOVE A RIQUEZA.

5. No que diz respeito a Cabo Verde, muito se tem falado no empreendedorismo e esporadicamente se tem debatido se somos ou não um povo empreendedor. A minha opinião é o seguinte: se estamos a falar de empreendedorismo por necessidade, somos sim um povo empreendedor. A própria natureza agreste e as difíceis condições de vida empurraram-nos historicamente para a busca de soluções empreendedoras imediatas para a cachupa na panela. Mas se estamos a falar de empreendedorismo por vocação, aqui não estou assim tão convencido, se temos de facto uma cultura empreendedora muito forte. As evidências são muitas: número de empresas, estrutura da balança comercial, número de empresas internacionalizadas, peso da informalidade na economia (temos 24.000 Unidades de Produção Informal contra cerca de 8200 empresas formais - quem se mantém na informalidade é porque não tem ambição de crescer, típico do empreendedorismo por necessidade...), etc.

5. Para um ritmo de crescimento maior, puxado por um sector privado inovador, ambicioso, competitivo, o que é preciso é sobretudo estimular e promover o empreendedorismo POR VOCAÇÃO, e isso passa necessariamente por fomentar uma cultura de inovação, de experimentação, de ousadia, de ambição, de assumpção de riscos (calculados), de transferência do "centro de controlo" para dentro de cada um de nós enquanto indivíduos. Este, obviamente, não é algo que se consegue com duas cantigas, nem de noite para o dia, e nem se espera que gere votos nas próximas eleições. É um trabalho de gerações, que exige coragem, visão de longo prazo e do conjunto, liderança, coerência e consistência de políticas e estratégias. Passa por começar a trabalhar o indivíduo desde a formatação da sua personalidade (família & comunidade), passando pelos mecanismos de apreensão de conhecimento (sistema de ensino, acesso a informação) até à adequação dos ambientes em que aplica este conhecimento (empresas, instituições, infra-estruturas...).

6. Isso não quer dizer, naturalmente, que se deve ignorar ou abandonar o reforço do empreendedorismo por necessidade. Nada disso. Este tem um papel importante no aumento do auto-emprego, no crescimento do nível de renda das famílias, na melhoria das condições de vida de uma certa faixa da população. O que defendo, sim, é que as políticas para sustentar o empreendedorismo por necessidade devem ser, pela sua especificidade, distintas das exigidas para o fomento de um empreendedorismo por vocação. Os objectivos pretendidos em cada uma dessas dimensões devem ser claramente definidos, e os mecanismos de intervenção (e até de integração ou de migração de um tipo de empreendedorismo para o outro tipo) terão que ser desenhados tendo como base esta perspectiva.

7. Dito, isto, vamos rever o nosso discurso sobre o empreendedorismo em Cabo Verde, pessoal? De que tipo de empreendedorismo nós estamos a falar? Serão os instrumentos que vimos utilizando os mais adequados? Quais as fraquezas subjacentes, considerando a distinção feita acima? Qual o melhor caminho que devemos seguir?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A vida, às vezes, é uma trampa...

A esta hora, era para ter já escrito um poema ou uma crónica, meu caro Cardoso. Em tua memória - diria certamente à laia de introdução. Seriam naturalmente versos entristecidos, desarrumados, jogados na folha em branco ao sabor da angústia e do espanto (ainda!) que nos vai a todos na alma. Dir-te-ia que ao cambar di Sol, a sombra de um homem é maior que si mesmo: e que nos antecede o rosto, nos antecipa conceitos, nos redefine os contornos. A sombra, os valores, o que somos, o que sempre seremos.

Hoje, caro colega, ficarei em silêncio. Sem palavras. Em jeito de protesto por esta forma tão inesperada de nos deixar...

Descansa em paz, Professor!


( "A sombra e o ser" - foto de PD)


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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

De volta à leveza dos dias

De regresso à suavidade dos momentos, como prometido. E às caminhadas pelo interior de Santiago, claro! De regresso ao vale de Tabugal em Santa Catarina - um dos mais belos recantos deste país -, e à nostalgia de me ver assim outra vez menino do campo com a malta dos Caminheiros Sem Fronteiras. De regresso ao prazer das imagens e ao tal momento que se busca no milissegundo que antecede o disparo. E à ânsia de te ter ali a meu lado, naturalmente, para contigo partilhar o verde e o espanto.

Sabes, minha crioula, é tão bonito ver o dia amanhecer no topo do planalto... Com o vale - quase desconhecido - serpenteando-se lânguidamente do umbigo de Santiago ao azul do mar que nos espera em João Gago. Parece até que curvas do teu corpo entre os lençóis da ilha. É tão bom caminhar pelos recantos destes vales, à descoberta da poesia e da tal leveza dos dias... É tão bonito o verde, a flôr do canavial & e o inhame, a água por entre as pedras e a suave ondulação do dondagu ao redor do agrião, as mãos rudes do moço que nos abre o côco ou que nos oferece um grogue... Sabe tão bem sentir a água fria do tanque envolver-nos a epiderme urbana nesta manhã de Domingo enquanto na encosta macacos fazem poses ao disparo das máquinas... Ouvir a gargalhada do Chico, as estórias da Paulinha, o humor do Draiss, a música do Afonso... Degustar uma cerveja gelada ali no bar de Ribeira da Barca antes de devolver à cidade os corpos exaustos e satisfeitos... Coisas simples destas nossas ilhas, minha crioula. Coisas simples... tão pertos... e tão desconhecidos...!

A próxima caminhada será no dia 12, para anteceder o Natal. Entre a Ribeira de Flamengos e a (Cidade de) Calheta. Haverá festa de Caminheiros, avisou-nos desde já Tóchico. E troca de prendas. E música. E poesia, como é evidente. Irás comigo de volta à leveza dos dias, óh crioula?


(Caminhada pelo vale de Tabugal, Santa Catarina - fotos de PD)

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Estacionar no Plateau...


Depois de ter perdido um bom tempo esta tarde à procura de um lugarzinho para estacionar o carro no Plateau, dá-me ganas de perguntar:

Porquê é que não se aproveitou a reabilitação da Praça Alexandre Albuquerque, já em andamento, para fazer logo ali um estacionamento subterrâneo??!

Com vagas pagas, estou em crer que recuperar-se-ia o investimento em poucos anos. Haja visão de longo prazo, óh Ulisses!!!


Devo andar com a pimenta pelo nariz esses dias aqui no blog...rsss. Se calhar é efeito dos discursos. Prometo voltar em breve à leveza das palavras e à poesia...


(Foto surrupiada daqui)

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A propósito...

... é a isso que me refiro quando falo em institucionalização da pobreza. Sem comentários!!!!!


(Foto tirada numa Câmara Municipal algures nestas ilhas)

sábado, 20 de novembro de 2010

A voz dos outos (3)


"Para vencer a pobreza, não basta lançar projectos gigantescos. Antes de mais, é preciso preocupar-se com o primeiro elo da cadeia: o Homem. Oferecendo-lhe esperança."

(Muhammad Yunus, Prémio Nobel da Paz 2006)



Agora que parece já termos entrado a todo o vapor em período de campanha, uma perguntinha que gostaria aqui de deixar aos partidos políticos, candidatos ao meu voto: quais as vossas propostas para reduzir a pobreza em Cabo Verde? Obrigado desde já, aguardo.


("Esperança" - olhar de PD deliberadamente repetido neste blog, depois de ler a frase acima...)


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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A voz dos outros (2)


"Tem de haver movimentos (no sentido de forças, energias, reflexões, formais ou informais) fora desses bunkers partidários que permita as pessoas libertarem-se das amarras e da canga partidocrática, e pensarem por si, partilhando ideias e ideais que contribuam para o exercicio de uma cidadania mais activa e lúcida, e sirva melhor Cabo Verde."

D´zide pa ZCunha...
... e está tudo dito, meu caro!!!! Para ti, esta foto que aqui deixo, dum miúdo algures - poderia perfeitamente ter sido qualquer um de nós - nas ribeiras da minha ilha.


("Menino pensador" - foto de PD)

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domingo, 24 de outubro de 2010

Já estou a ficar cansado...

... e ainda as datas das eleições nem foram marcadas!

Sério, pá!, estou a ficar cansado dos discursos, das palavras ocas, dos mundos que ou são pretos ou são côr-de-rosa (como se não tivéssemos o discernimento de confirmar por nós próprios). Irrita-me já os outdoors espalhados pelas ilhas e que me limitam a vista para a poesia do azul do mar, sabe-me a alguma hipocrisia os sorrisos de ocasião e os braços que se abrem para nos alojar como se tivéssemos sido a vida inteira cómpas de copo & bafa, caramba...

A minha mente não é campo de batalha, meus senhores. Muito menos espaço vazio onde (acham que) podem jogar toda a casta de porcaria em busca do meu alinhamento. A minha mente pensa, bolas! Escusam-se portanto de me enfiarem slogans elegantes goela abaixo, agradeço me pouparem dos e-mails ora verdes ora amarelos que me vêm enchendo a caixa de correio (já agora, apago-os sem os ler...), não tentem sequer me manipular com os vossos números e as vossas estatísticas, digo-vos!

Compreendo que estão a cumprir o vosso papel. Afinal, é a política, e há que catar votos para as próximas eleições... Para que fique claro que eu não sou contra a política nem os políticos: são elementos cruciais para a nossa vivência enquanto seres sociais. E, quando praticada com seriedade e elevação de espírito, a política é sem dúvida uma actividade nobre e útil. E o meu voto é - mais do que obrigação - direito sagrado: faça Sol ou faça chuva, lá estarei no dias das eleições para escolher quem irá governar este país em meu nome. A quem vou delegar o poder de tomar decisões que vão afectar a minha vida enquanto cidadão. Ah!, disso não abro mão!!!!

Por isso, para vos facilitar a vida na (dura) tarefa que têm pela frente para conquistar o meu voto, permitam-me deixar aqui algumas informações básicas, à laia de "termos de referência" para as eleições que se aproximam:

1. Eu não voto em partidos: voto em VALORES e ATITUDES. Isso é condição sine qua non para merecer a minha confiança e o meu voto. Valores correctos. Atitudes certas. Não me venham, pois, com rostos duplos: o rosto do político empedernido e discursos inflamados na Assembleia e o rosto que bate na mulher entre quatro paredes ou que "surrupia" electricidade no posto da esquina. O rosto que aprova leis de segurança na estrada e o rosto que passa por mim na avenida sem cinto de segurança e a falar no telemóvel. O rosto exalando seriedade sobre a gravata hermés no atelier-de-validação-de-qualquer-coisa e o rosto que na quietude da noite violenta a ingenuidade de menininhas de 15 e 16 anos em troca de patacos. Não me venham, portanto, com essas tretas, meus senhores e minhas senhoras! Para mim há apenas UM rosto no político que há-de conquistar o meu voto. A isso chamo ÉTICA e COERÊNCIA!

2. Eu não voto em bandeiras: voto em PESSOAS. Em competências técnicas reconhecidas, capazes de identificar e hierarquizar os problemas de Cabo Verde, construir soluções sustentáveis a longo prazo, mobilizar os recursos necessários e implementar acções concretas para melhorar a vida dos caboverdeanos.

3. Eu não voto em passados: voto no FUTURO. Que saibamos reconhecer o trabalho feito, sem dúvida. Mas por si só não conquistarão o meu voto, vou logo avisando. Quero, antes, saber o que pretendem fazer com o futuro deste país, com o MEU futuro. Por isso, escusam-se de perder o vosso tempo comigo alardeando o que cada um fez ou deixou de fazer... Falem-me, sim senhor, das vossas ideias para o meu futuro. As vossas propostas. As vossas soluções. O que VÃO FAZER nos próximos 5 anos.

4. Eu não voto em problemas: voto em propostas de SOLUÇÕES. Concretas, objectivas, estruturadas, com recursos devidamente alocados. Assim, não me façam perder tempo com retóricas vazias e dedos apontados. Quero antes soluções. O que propõe de concreto para o crescimento económico e distribuição de renda. A saúde, segurança e educação (a todos os níveis). As infraestruturas. O que pretendem fazer com a nossa cultura. A nossa memória colectiva. A juventude. O desporto. A agricultura e a pesca. Quais as soluções para que não me morram mais Eduardos e Bóias e Manecas nas ribeiras da minha ilha... Soluções, portanto. O resto passar-me-á ao lado, devidamente ignorado, aviso.

Já estou a ficar cansado destes discursos, dizia...

sábado, 23 de outubro de 2010

Recantos da minha ilha (3)

Teu rosto também é um recanto da minha ilha, meu velho Jota. Oásis da tal tranquilidade que só as vicissitudes de uma vida intensa podem conceder, e, muitas vezes - confesso! - porto de abrigo às minhas angústias de quase-poeta a vaguearem pelas ruas da cidade. Haverá sempre um verso escondido nas rugas do teu rosto. Haverá sempre uma paz para se colher na quietude de uma tarde a pairar sobre o povoado, enquanto no terraço me contas aventuras d´Angola ou a dor de ver homens-esqueletos a chegarem dos campos do Norte na fome de 47. Sem poder fazer nada, dizias-me.

É, sim senhor, um recanto da minha ilha, as rugas do teu rosto, Junzim d´Polina - meu pai...

("Rostos da minha ilha" - foto de PD)

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domingo, 17 de outubro de 2010

Remexendo velharias - I

Hoje, arrumo velharias na estante. Pedaços de antigos poemas encardidos de pó e de esquecimento. Pequenos nadas. Hora de sacudir a poeira, portanto. Espantar o tédio desta manhã de domingo que queria ensolarada e de banho de mar na Quebra Canela. Em vez disso - poeminhas antigos. Do tempo em que ainda te escrevia versos na última folha do meu caderno de macroeconomia. E era Julho, lembras-te? Naquele tempo os poemas não tinham nomes. Nem as palavras rumos pré-determinados...


POESIA SEM NOME

Niterói, numa aula qualquer em 22 de Julho de 1999...


Agora não adianta
esta algazarra de sonhos à minha volta...

É inútil este fervilhar de ilusões
que em menino
embriagavam-me

(e ao Gilson. E ao Jôn Bunita. E ao César. E à Isa de Nhá Mari d’Jóna. E à Gracinda)

- nas canções de roda.

“Papagaio loiro,
de bico doirado,
toma esta carta
prá levar ao namorado”

Já não tenho. Já não sonho.
Sinto. Sou.
Carne & osso. E nervos.

“Ó maleão maleão ai que vida é tua...”

Homem-ser na penumbra das horas,
um poema vagabundo à espreita
de novas rotas de fuga na linha do horizonte

(tragaram-me nas ruas do mundo
a alegre inocência dos meus 12 anos...)


("Miúdo contemplando o horizonte" - foto de PD)

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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Recantos da minha ilha (2)

Aqui, neste recanto, é indescritível o silêncio que nos envolve. A sensação de sermos apenas uma partícula minúscula em algo muito, mas muito grande, que ultrapassa a nossa compreensão. Uma profunda paz que nos entra alma dentro e nos devolve à contemplação das coisas simples ao nosso redor. Vale a pena subir o Tope de Coroa em Santo Antão, digo-vos...

("Subida de Tope de Coroa" - foto de PD)

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Início de semana devia ser assim:

Obá!!!! Hoje é Segunda-feira!!!!
(Piadinha para Mnininha de Soncent eheheh...). Boa semana a tod@s!!!


("Ana" - Foto de PD)

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sábado, 9 de outubro de 2010

Crónica de uma visita ao campo de concentração de Tarrafal

Se calhar nem deveria chamar "crónica" a este amontoado de palavras. Ou que ao menos lhe acrescentasse "desaforada", como o meu vizinho margoso. Por esta gana que tenho neste momento de desbragar umas quantas porras, confesso...

Pede-me a minha prima e o marido dela angolano que lhes mostre o campo de concentração de Tarrafal. Conhecem gente que ali esteve e não saem de Santiago sem lhe ver as grades, o campo. Ala para Tarrafal via Pedra-Badejo, numa Quinta-feira solarenga de verde a bombordo pelas encostas e azul do mar a estibordo, para lhe beber um pouco a história. Mas em vez disso, esta crónica que deveria ser desaforada...

Logo à entrada um silêncio - que quereria normal num museu - e um vazio que, esta sim, faz-me um friozinho na barriga. Não tem ninguém?!, penso cá com os meus inseparáveis botões. Mas logo aparece uma senhora da sala à direita com um ar de enfado onde se pode ler "chiça!, lá me vêm uns paspalhos estragar-me a sesta...". Tem dois miúdos ranhosos agarrados às pernas. Silêncio. "Bom dia, senhora". Silêncio. Quanto é a entrada? "Cém merrés". Silêncio. Entrego o dinheiro e faço questão de receber os bilhetes. Para recordação, digo à minha prima. Por desaforo, digo aos tais botões meus.

No corredor principal ainda, revejo "Tarrafal, o pântano da morte", de Cândido Oliveira, que lera aos quinze anos com lágrimas nos olhos. O vento sopra suavemente por entre as casernas, o poço e as grades da história. Levo comigo a minha máquina, naturalmente. Por isso escuto apenas o vento desta vez: abstenho-me da contemplação, até para me proteger do desencanto. Em vez disso, enquadramento, quantidade de luz, posição do Sol, velocidade de disparo. Em vez disso grades retorcidas, nesgas de céu para lá do portão entreaberto, a pequena capela ao fundo na imensidão do corredor embasaltado. Quereria rostos, como é evidente. Corpos decrépitos a caminharem trôpegos pelos espaços agora vazios do campo. Olhares que adivinho mortiços na angústia de quem já não espera. Olhares do Algarve ao Alentejo para aqui transpostos pela bestialidade dos homens. Olhares de Luanda, olhares de Bissau, olhares de São Tomé, olhares de Lourenço Marques. Olhares dessas ilhas de que nos fala Pedro Martins e os outros.

Quereria também história, com certeza. Alguém para me contar - e à minha prima e o marido - as coisas que estas paredes assistiram, impunes, sem ao menos poderem dizer ao mundo. Alguém para nos contar estórias do campo, pois. Em multilingue para que ressoasse aos quatro cantos do universo. (Deito um olhar angustiado à senhora agora esparramada numa velha cadeira numa sombra à entrada. Com os miúdos à perna ainda...).

Desviámos à direita e depois de atravessar um portão entreaberto "descobrimos" duas alas com fotos de antigos prisioneiros angolanos e guineenses. O silêncio ali clama à contemplação. Pede-nos humildade e respeito. Reflexão. Por enquanto, desbrago-me a fazer fotografias tão só. Luz e contra-luz. Nesgas de Sol que entram pelas grades e iluminam o outro lado da parede. As fotos são enormes, imponentes. Prometo a mim mesmo regressar com calma - sem a máquina! - para lhes consumir os rostos. Destrinçar os olhares. Desbravar as rugas como quem entra em território desconhecido. Embrenhar-me pelas suas angústias, se calhar até escrever um poema qualquer em sua memória. Hei-de voltar, sim senhor.

Ao redor dos edifícios e nos corredores, a vivacidade das ervas brada-me abandono. Triste, muito triste. E eu que quereria museu... Ah!, mas agora compreendo a razão das cabras que vi outro dia na Fortaleza de Cidade Velha: não são cabras, pois. São funcionárias de limpeza. Devem ter até contrato assinado, cartão do INPS, direito a férias e subsídio de Natal. Pena que não falem o meu crioulo para me contarem as tais estórias. E muito menos inglês ou francês, naturalmente. Transfiram, portanto, parte das cabr...digo, das funcionárias de limpeza, ao campo de concentração de Tarrafal. Imediatamente! Se houver resistências e ameaças de greve, que venham então as vacas das ruas de Palmarejo! Mas agora com este verde todo que cobre a ilha eram capazes até de ficarem snobs e recusar o convite, essas atrevidas. E eu que quereria museu...

À saída, cerca-nos um grupo de cinco ou seis miúdos. Entre eles, os dois que inda agora colavam-se às pernas da senhora dos bilhetes. Nhôs dan um kusa. Digo-lhes que não, e em jeito de filósofo maluco digo-lhes que mininu ka ta pidi dinhêro, nhôs devia sta era na skola! Olham-me assim mesmo - como um filósofo maluco - apenas por uma fracção de segundo antes de zarparem à minha prima e marido. Digo a estes que não lhes dêm dinheiro e os miúdos agora crucificam-me com o olhar. Sou eu, agora, o carrasco, a crueldade em pessoa, o abusador de crianças. Na porta, a senhora continua esparramada na cadeira, agora observando a cena com o queixo pousado numa das mãos. Silêncio. Coisa tão banal, afinal... Depois falamos de thugs, abandono escolar, criminalidade juvenil, São Martinho a abarrotar pelas costuras, minha esposa angustiada pelos dramas que lhe vão desfilando pela sala. Quase que mando à bardamerda a senhora no portão com as mãos no queixo, mas lembro-me a tempo dos miúdos ao redor e dos tais valores meus. Seria uma contradição, pois. Eu que iria assim exigir valores aos miúdos. E um museu ali ao lado, dizia...

Assim vamos caminhando, nesta Quinta-feira solarenga de verdeazul. (Des)construindo história. (Des)construindo respeito e memórias. (Des)construindo valores. (Des)construindo o pouco que nos resta já de registos do nosso percurso colectivo. E eu que - porra! (não resisti) - queria apenas um museu ali no campo de concentração de Tarrafal...



(Campo de concentração de Tarrafal - Fotos de PD)

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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Teremos todos um pouquinho de loucura?

Tenho que vos pedir desculpas por volta e meia colocar aqui um chamado para algum texto do Olavo. É que esse gajo tem a mania de nos desmantelar conceitos, desarranjar nossas zonas de conforto, transformar em pó velhas certezas com que tranquilamente adornamos nossos pré-epitáfios de bons cidadãos pagadores de impostos e deixar-nos assim com este vazio no pé-de-barriga... Grande porra, man!

... mas para lá da angústia que nos fica, um belíssimo texto sobre a loucura. Ou como nos relacionamos com ela. De se tirar o chapéu, meu caro. Seremos todos um pouco loucos então?, óh Olavo?! Dá que pensar, caramba!, dá que pensar...


("Do outro lado do espelho" - foto de PD)

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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

À procura de azul

Ando à cata de azuis pelos céus da minha cidade, sim senhor. Agora que me brigam a alma o verde e o amarelo dos discursos e, de tempos em tempos, o rosa e o negro das palavras, quero apenas saciar-me de azul. Com fiapos de branco para me lembrar a tranquilidade do teu sorriso. A paz que emana desta silêncio cúmplice com que me envolves ternamente quando de ti me acerco.

Neste Setembro ando esfomeado de outras cores, confesso. À procura deste azul nas esquinas desta minha cidade. Do reflexo de azul no vidro da janela defronte onde adivinho gargalhadas. Do abraço fraterno do azul do mar com a quietude do céu que pressinto na ressaca de chuvas e temporais. Até do cheiro de terra molhada que desejaria azul nas encostas de Achada Santo António, Bela Vista, Plateau... O azul, nesta hora, é uma promessa que se espalha sobre o betão da minha cidade como sonhos em construção, sabias?.

À cata de azuis pelas esquinas da minha cidade, dizia-te inda há pouco. Hoje, não o preto e o branco. Prefiro antes as cores que desenho nos mil rostos das gentes da minha cidade. Dá-me a tua mão - vens comigo viver o azul desta manhã de domingo?


("Azuis da minha cidade" - fotos de PD)

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domingo, 19 de setembro de 2010