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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Para que nao volte a acontecer!

"Isso" aconteceu na Europa "civilizada", apenas sete decadas atras:


E "isso" foi obra de soldados da nacao mais "democratica" do mundo, ha quatro decadas:

Sem palavras!! Oh Casimiro?

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País de curto prazo (1)

Há dias, ao ouvir na rádio a intervenção de um deputado na Assembleia Nacional sobre a necessidade de uma estrada para o cutelo do seu eleitorado, quase fui às lágrimas outra vez, de tanta emoção. Digo, de tanta tristeza! Dizia ele mais ou menos por essas palavras, que a população do seu concelho já conhecia o asfalto, já sabia o que era o asfalto, e que por isso EXIGIA uma estrada moderna, uma estrada asfaltada!


Não pude deixar de pensar no conceito do “moderno” que está a invadir estas ilhas, influenciando a tomada de decisões que mais cedo ou mais tarde acabarão por afectar a todos nós: se não directamente como utentes, então como contribuintes, pois que como dizia o outro, “em economia não existem almoços grátis”…


Bolas!, às vezes penso que por cá, não obstante os alertas do Sr. Presidente e do Sr. Primeiro Ministro, ainda não nos demos conta da profunda transformação que o mundo está a atravessar ou em vias de encarar. Ainda não estamos suficientemente mentalizados que as bases desta “civilização do petróleo” em que vivemos estão a tremer até à medula. Ainda não assimilamos que a confluência de i) aumento acelerado da procura, puxado pelo crescimento das economias de uma mão cheia de “gigantes emergentes” (China, Índia, Brasil, Rússia…); ii) estimativas de redução drástica das reservas de petróleo num horizonte de 50 anos, conjugado com custos crescentes de produção; iii) corrida dos especuladores financeiros ao petróleo como alternativa de investimento – irão afectar cada vez mais o nosso estilo de vida e as fórmulas de tomada de decisões que temos vindo a adoptar até agora. Desde a camisinha aos transportes, desde o creme de barbear às sacolas de plástico, desde a electricidade aos t-shirts de tecido sintético, todos os derivados do petróleo – sim senhor, incluindo o asfalto betuminoso! – estarão sujeitos a crescentes pressões inflacionárias.


Mas parece que nós por cá continuamos a assobiar para o lado entre dois arrotos de cerveja com asinhas de frango grelhado, que isso é coisa dos gringos lá fora… Continuamos a bradar loas ao asfalto como sinónimo de modernidade, mesmo quando sabemos que o custo do metro quadrado de pavimento com asfalto betuminoso já ultrapassou o seu correspondente em calçada (precisamente por causa do aumento do preço do petróleo), e que as estradas asfaltadas requerem o recarregamento periódico da camada de asfalto, fazendo com que a sua manutenção seja muito mais cara - e complexa pois que exige empresas e equipamentos especializados.


E assim vamos “modernizando” estas ilhas. Já “modernizamos” as ruas do Plateau, um verdadeiro crime historico-paisagístico, “modernizamos” as ruas de Mindelo, enterrando sob o asfalto a poesia de que nos falava B.Léza, Frusoni, António Aurélio Gonçalves e os outros, estamos a “modernizar” a Praínha, e até vamos “modernizar” o belíssimo vale de Ribeira da Torre, em Santo Antão. Enquanto isso, de olhos postos na evolução do preço do petróleo, alguns países na Europa estão a arrancar o asfalto em algumas das suas cidades historicas com interesse turístico, substituindo por calçada artística, a Índia esta a pensar utilizar pavimentos de betão nas novas estradas em vez do asfalto, e nós – vejam só! – começamos a exportar pedras…


É caso para se dizer, somos mesmo um PAÍS DE CURTO PRAZO, ou nao?



("Abre o olho meu povo" - foto de Roberta Jardim)


terça-feira, 29 de julho de 2008

Uma não-crónica sobre a última caminhada

Desta vez não vou escrever nenhuma crónica, vou logo avisando. Bastam as imagens abaixo, belissimamente captadas pelo Hélder Paz.


Não direi nada sobre o verde que já desponta nas encostas da Serra, calo-me extasiado no meio da neblina onde nos transformamos em vultos caminhando trôpegos de verde e de Santiago, não vou sequer escrever uma palavra sobre Nhá Joana, a minha patrícia de Lajedos em Santo Antão que fui descobrir lá em Figueira das Naus, para onde trouxe-lhe o destino e um cretchêu badiu lá das roças de São Tomé nos anos 60 do século passado. Nunca mais pôs os pés na ilha – diz-me entre um abraço e um suspiro silencioso…


Também não vou falar da chuva miudinha quase à chegada do povoado, que nos refrescou a pele suada e a nossa caboverdeana ambição de boas às-águas. Nem tampouco da bela praia de Ribeira Prata para cuja água morna nos atiramos feito meninos perdidamente felizes entre a chuva que agora caía a píncaros e as gargalhadas. Sobre o pontche da Maria Antónia e a cachupa temperada com carne de porco, nem um pio.


Mas poderei falar sim senhor – se me ajudar “o engenho e a arte” - do batuque improvisado ali no bar da Vika, onde a moça prende nas ancas o panu di terra quadriculado de vozes ancestrais, que nos reconstrói a síntese e o espírito da caminhada. Ali desembocamos todos, mais as nossas matrizes e as nossas almas de Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Santiago, Fogo, Guiné-bissau, Portugal, Escócia e EUA, convergimos todos si-len-cio-sa-men-te para o batuque, o rodopiar de ancas corpo & nervos, a alma em transe e o olhar parado a fitar qualquer coisa indistinta para lá da orla desta ilha, para lá da linha do horizonte…


Hoje, caros leitores, não direi uma palavra. Bastam as imagens abaixo, do Helder Paz Monteiro, escritor de imagens e nosso colega de caminhada…






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segunda-feira, 28 de julho de 2008

Telefonema

Hoje não queria ouvir este telefonema, mãe. Não desta forma, com a brutalidade que por vezes a notícia se reveste.


Pela segunda vez o tanque de Boca de Fundo cobra o seu tributo. Duas vezes, o mesmo grito, quase à mesma hora, caramba! Nesta Segunda-feira, mãe, com este sol de Julho a entrar-me varanda adentro na capital, eram outras as palavras que eu queria ouvir…


Descanse em paz, Menél de Berrnalda. Fica-nos, todavia, o teu sorriso tímido como um verso inacabado, em todas as esquinas de Fajã e Chã de Henrique…

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domingo, 27 de julho de 2008

Notas avulsas

1.

Queria a minha mente apenas dois minutos e trinta segundos de paz nesta tarde de Julho. Fugir de ti desarvorado como se das pragas que sobre o Egipto se abateram entre duas gargalhadas de Deus Nossenhor. Fugir, fugir, fugir, e quando me alcançasse o tédio – ou a desesperança, talvezrecostar meu ombro esquerdo no chão empoeirado de uma rua qualquer da cidade e ficar ali quieto como um poeta em lá menor, vendo o mundo a desfilar-se horizontalmente no lado de lá da tal ponte.


2.

Obriguei-me a ver o basalto negro da estrada entre Ribeira Prata e a capital nesta tarde de domingo. Segurei a fronte com as duas mãos em concha para que pudesse perceber a chuvinha miúda que caía no outro lado do pára-brisas. Cerrei depois as pálpebras para que me invadissem os acordes da música na rádio do carro. Pude até ouvir a voz e a relíquia. Ku furmiga ku tudo gosta. Ku furmiga ku tudo gosta


3.

Mas a minha mente estava em ti. Inexoravelmente. Melhor: tu estavas em mim. Nos meus nervos dormentes sob a pele molhada ainda de chuva & sal. Na ponta de meus dedos a tamborilar qualquer coisa no recosto da cadeira em frente onde adormece o Hermano. No descerrar lento dos meus olhos que te procuram para lá do nevoeiro que nos nega a vista sobre o planalto de Achada Lém. Até no besame / besame mucho / como se fuera esta noche la ultima vez que comecei a assobiar baixinho para espantar a angústia de te saber distante.


4.

Estavas em mim. Todavia, distante como a palavra que nunca veio…



(Foto daqui)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Convite: caminhada de Julho


Agora que a "chuva amiga ja falou mantenha", nada como uma caminhada pelos cutelos e achadas de Santiago para beber do verde & da vista. O relax e as gargalhadas sao por conta do grupo...rs.

A caminhada deste mes dos "Caminheiros Sem Fronteira" sera no proximo domingo dia 27, entre Serra Malagueta, Curral de Asno, Figueira das Naus, e Ribeira da Barca. Aproximadamente 3hs. A partida da Praia sera as 06h30mn, com concentracao no PV da Shell de Cha de Areia.

Estao todos desafiados, erh, quer dizer, convidados...rs. Quem quiser participar, basta enviar-me um e-mail (paulinodias21@yahoo.com) ate as 12h00 de Sexta-feira 25/07 (por causa da organizacao logistica).


Abracos,

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Eu ja fui piloto na Segunda Guerra Mundial...

Igualzinho... eh eh eh.

Vejam a historia aqui. A Carla tambem ja tinha esgrovetod este assunto. Depois dessa, vou dar uma olhada na minha arvore genealogica a ver se nao terei algumas costelas la pras bandas de Sao Nicolau, caramba!

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terça-feira, 22 de julho de 2008

Um post de má-criação

Hoje, assim sem mais nem menos, dá-me ganas de rasgar o poema e a memória. Atirar aos porcos todas as consoantes desta madrugada insone, desfazer em mil pedaços o verso e o acorde que me apoquentam o sonho. Dá-me ganas de mandar à merda esta monotonia toda, este não-ser que me encosta à parede do quarto manchado com o sangue da meia dúzia de mosquitos que aqui vieram se suicidar – outra vez, porra! – entre a tinta branca e a palma da minha mão direita.


Faz um calor dos diabos aqui dentro. Não adianta acelerar o ventilador, escancarar as janelas e o sopro, há sempre este bafo que me esmaga entre o lençol e as gotas de suor que me percorrem a pele. Um outro mosquito passeia o zum-zum na borda do meu ouvido esquerdo. Que no direito, caraças!, tenho o Brother in arms a acariciar minhas memórias de rebelde-sem-causa a partir do radiinho de pilhas made in China. (…) There’s so many different worlds / so many different suns / and we have just one world / but we live in different one’s…


Yá, meu caro Knopfler, vivemos em mundos diferentes, brother. Não devia ser assim – ponho-me a matutar nesta madrugada de mosquitos, calor, insónia e nervos em rebuliço – não devia ser assim…


E agora que "o Sol está a descer para o inferno e a Lua está cada vez mais alta no firmamento", abro o computador e escrevo – impotente, enquanto o relógio marca o compasso do tempo – mais um poeminha de merda!


Tcham ba durmi que ja ta tarde... Porquê eu – chiça! – não consigo ter um tintinho assim de fé, ahn???


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(Foto de Armando Cardoso)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

150 anos da Praia: Crónicas da cidade 4


Podem,

sim senhor!,

a morte e a sandália made in China partilhar o mesmo tecto

nem que seja na esquina da outra rua.


Ora bolas!, que mal há nisso?!


Afinal,

dá sempre jeito um pouco de glamour

quando se entra no Reino dos Céus…



("Partilha" - foto de PD)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

"Afronamim" do Hernani: em jeito de desculpas

Alô, Dulcineia,


Com um indisfarçável rubor nas faces, devo confessar-te que tens razão. Não estive na apresentação do CD do Hernâni aqui na Praia…


Poderia te dar mil e uma razões: o trabalho, os afazeres, o cansaço depois de um dia cheio de pequenas azáfamas, o sono que me prendeu à porra da cama entre uma notícia e outra do telejornal, e até o béééééé inquilino do 3º andar do meu prédio que não me deixa dormir direito e que me obriga a ficar com o relógio biologico todo escangalhado.


Mas assumo apenas que de certeza perdi um grande espectáculo. Resta-me correr amanhã logo cedo à loja de CDs no Plateau para comprar o meu Afronamim, fechar os olhos na varanda à tardinha com um gruguim de Sintanton na mão direita, os pés estendidos preguiçosamente, e deixar que os acordes do Hernâni & Companhia acariciem esta minha pele ao de leve…


Sem a tua permissão, publico aqui o comentário que me deixaste sobre a noite mágica.

Um abraço,

……………….

“ Bom dia Paulino,
Procurei-te pelos rostos de ontem, mas não te vi.
No meio daquela multidão, tal como apaixonada adolescente procurei-te.
Não creditei que não estivesses presente…
Pensava eu, “quem vai descrever amanhã a noite de hoje?”. Ai se o Paulino estivesse aqui, com certeza amanhã ao abrir um desses inúmeros sites de consulta obrigatória, encontraria algo publicado por ti, sobre o assunto. Rever-me-ia nas tuas palavras e poderia re-assistir o show do Hernâni de ontem.
Ele merece uma crónica, mas uma crónica escrita com amor.
Era ver os rostos maravilhados, os homens que normalmente se embriagam com as curvas das mulheres cabo-verdianas, e se deixam encantar pelo seu doce perfume, ali atónicos, parvos, despudorados apaixonados pelos sons que saíam das mãos dos quatro.
Sim, o Hernâni não poderia estar só, não é da sua natureza… estava acompanhado e muito bem acompanhado, dedos mágicos…
Paulino, perdeste o momento em que as conversas se calavam, seguidos de gritos/uivos de prazer… em que amigos se entreolhavam e continuavam balançando o corpo, pés, mãos ao ritmo daquele manjar musical, sem nada dizer…
Só eles reinaram ontem…
Paulino, se me disseres que lá estiveste… não me assustará, poucos poderão dizer quem esteve ontem no lançamento do Afronamim
O som ofuscou nossos olhos, calou nossas línguas, removeu nossos sentidos…saí encantada, estou assim, recuperando-me!
Obrigada Hernâni.”

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quinta-feira, 10 de julho de 2008

Debate interessante e pertinente

O post sobre "A cultura, (...)" esta a gerar um debate interessantissimo entre um Anonimo e o Tide do Pedra Bika sobre a Economia da Cultura e outros pontos. Confiram nos coments.

E voce, o que pensa disso?

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Béééééé!

Acreditem-me, há um cabrito no meu prédio. Algures entre o 3º e o 4º andar, em pleno coração de Palmarejo… Béééééé!


O berro entrou-me assim quarto adentro hoje logo de manhãzinha por volta das 06h05, um pouquinho depois de o despertador acordar-me para o meu banho no Quebra Canela. Bééééééé. Entre a modorra do sono ainda, primeiro imaginei estar lá no planalto de Fajã Domingas Bentas em Santo Antão. Mas não, dei por mim a pensar, faz duas semanas que regressei da ilha e além do mais meu velho deixou de criar cabras diazá. Se calhar é o rádio que deixei ligado em cima da mesinha de cabeceira e devem ser os moços do Backstreet Boys a berrarem com os olhinhos melados de ternura olha o bódeeeeeeee, bééééééééé! Também não, não são os Backstreet Boys. A realidade veio entrando assim crã: é deveras um cabrito. Justo aqui no prédio, caramba…


Bééééééé! Béééééé!


quarta-feira, 9 de julho de 2008

A cultura, os loirinhos de olhos azuis, e nós...

Ao ler esta afirmação do Sr. Primeiro Ministro (que sublinho inteiramente), não pude deixar de ir cavar no meu cacifo de “documentos-pendentes-para-tratamento-posterior”, este bilhete de entrada nos monumentos da Cidade Velha – sem dúvida um dos marcos mais relevantes que moldaram a nossa Cultura e Identidade e que todos os caboverdeanos, sem excepção, deviam ter o direito (e o prazer, bolas!) de conhecer. 500 paus paguei por este bilhete há algumas semanas atrás, Sr. Primeiro Ministro…

Claro está, veio logo esta minha mente perversa de economista com as suas continhas, para perturbar-me o que devia ser a magia do momento e a poesia. Com uma elevada percentagem da população do país considerada “pobre”, quantas famílias podem, neste momento, “dar-se ao luxo” de gastar 500$00 por pessoa para desfrutar de umas horas entre os monumentos da Cidade Velha? E se a família tiver, digamos, quatro membros? Parafraseando o meu amigo João Branco, à melhor resposta ofereço um café e uma banana “Prestige”!


Sou um defensor da economia da cultura, Sr. Primeiro Ministro. Que a cultura também pode (e deve!) ser utilizada como factor de desenvolvimento – material, social, mas sobretudo pessoal e intelectual. Mas, na minha modesta opinião, não é transformando a cultura em produto de luxo que vamos poder atingir este desiderato, pois que corremos o risco de promover a dissociação entre o povo e a “sua” cultura, transformando-a apenas em algo artificial e sem “alma”, ou produto mercantil “para os outros” (isto é, meramente para os turistas loirinhos de olhos azuis com as suas câmeras Cannon a tiracolo - ou para os que podem pagar).


E eu que vivia exortando os meus alunos a visitarem os nossos lugares históricos e de relevância cultural como parte da sua formacao como gestores…


Já agora – e porque cidadania não é apenas criticar mas também participar na busca de soluções – permita-me sugerir que se adopte o que já vem sendo feito noutras latitudes: os cidadãos nacionais passarem a ter direito ao acesso gratuito aos seus monumentos históricos. Assim, quem sabe não retome um velho hábito meu de sentar à tardinha num dos extremos da Fortaleza da Cidade Velha ta oiá Sol ta cambá trás de vulcão de Djar Fogo

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Um poeminha antigo...



23:46

Beijos dados
mãos dadas
sexos dados
desacordados


cartas ao vento
relíquias do tempo
entendo
teu gemido erótico
no quarto penumbrento da periferia


o telefone mudo
imundo
o silêncio no outro lado
mundo
triste
vozes em riste
acusando
meu polegar de milho estendido
gatilho entre os dedos
medos intermináveis
cataclismos
pesadelos
sonhos inacabados


pum!


Na mesinha de cabeceira
o despertador marca 23:46

Acendi a luz
e rabisquei mais um poeminha de merda


Paulino Dias


(Foto: "Praia Azul" - de Nana Sousa Dias)