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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Teremos todos um pouquinho de loucura?

Tenho que vos pedir desculpas por volta e meia colocar aqui um chamado para algum texto do Olavo. É que esse gajo tem a mania de nos desmantelar conceitos, desarranjar nossas zonas de conforto, transformar em pó velhas certezas com que tranquilamente adornamos nossos pré-epitáfios de bons cidadãos pagadores de impostos e deixar-nos assim com este vazio no pé-de-barriga... Grande porra, man!

... mas para lá da angústia que nos fica, um belíssimo texto sobre a loucura. Ou como nos relacionamos com ela. De se tirar o chapéu, meu caro. Seremos todos um pouco loucos então?, óh Olavo?! Dá que pensar, caramba!, dá que pensar...


("Do outro lado do espelho" - foto de PD)

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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

À procura de azul

Ando à cata de azuis pelos céus da minha cidade, sim senhor. Agora que me brigam a alma o verde e o amarelo dos discursos e, de tempos em tempos, o rosa e o negro das palavras, quero apenas saciar-me de azul. Com fiapos de branco para me lembrar a tranquilidade do teu sorriso. A paz que emana desta silêncio cúmplice com que me envolves ternamente quando de ti me acerco.

Neste Setembro ando esfomeado de outras cores, confesso. À procura deste azul nas esquinas desta minha cidade. Do reflexo de azul no vidro da janela defronte onde adivinho gargalhadas. Do abraço fraterno do azul do mar com a quietude do céu que pressinto na ressaca de chuvas e temporais. Até do cheiro de terra molhada que desejaria azul nas encostas de Achada Santo António, Bela Vista, Plateau... O azul, nesta hora, é uma promessa que se espalha sobre o betão da minha cidade como sonhos em construção, sabias?.

À cata de azuis pelas esquinas da minha cidade, dizia-te inda há pouco. Hoje, não o preto e o branco. Prefiro antes as cores que desenho nos mil rostos das gentes da minha cidade. Dá-me a tua mão - vens comigo viver o azul desta manhã de domingo?


("Azuis da minha cidade" - fotos de PD)

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domingo, 19 de setembro de 2010

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Duas notas para o Mindelact

Nota 1:




Nota 2:

... afinal, somos todos actores de um palco muito maior: desfilamos máscaras tão só pelas ruas do mundo. Por vezes a máscara nos bloqueia a luz em potência e quedámo-nos assim mudos, a boca escancarada à espera da palavra suspensa. Outras vezes, caramba!, nem sequer decidimos se rostos de serrapilheira ou capas de gesso para nos esconder o pranto ou o riso.

Parabéns, pessoal do Mindelact!


("Máscaras" - fotos de PD sobre máscara de Olavo da Luz)

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sábado, 11 de setembro de 2010

Resposta do ZCunha

Em resposta a esta provocação, responde-me assim o ZCunha:

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DIÁRIO PÓSTUMO

"As dores ligeiras exprimem-se; as grandes dores são mudas."
Séneca

Caro Paulino

O teu desafio teve em mim um duplo efeito. Prazer e dúvida. Dúvida porque costumo re-AGIR nestes casos de forma espontânea. O prazer é óbvio. Bastava teres colocado a foto no Blogue que eu reagiria inevitavelmente. Tenho estado com um trabalho complicado entre mãos que só ontem terminei, causa desta atrasa reacção. Não penses que tenho estado ausente ou distraído. Não tenho tido tempo de intervir como gosto. Como muito bem sabes, eu não sei resistir a um rosto. E não há ‘maus’ rostos. Este é simplesmente magnífico. Esta fotografia fala por si. Bem sei que seria fácil agarrar-me ao chavão da praxe do valor supletivo das imagens sobre as palavras, e deixar-me ficar nas encolhas. Mas para mim, quanto maior o desafio maior o estímulo. E este rosto é incontornável. O que torna o teu pedido indeclinável.

Para tua informação vou retomar um conjunto de dez poemas escritos para os teus “dez-equilibrios” de 26/JUL. Um para cada “anjo voador”. Os poemas estão burilados, mas tive de interromper a sua conclusão pelo que te disse atrás. Faço tensões de os enviar brevemente, e tu com a responsabilidade de escolher para cada fotografia o poema adequado. É esse o desafio.

Quanto à fotografia da Nha Ilda, o que eu gostaria mesmo era de escrever um livro. Novela ou romance. A vida dessa mulher. Perdão, a história desse rosto. A forma como esse rosto foi tomando a forma que hoje tem. Para isso precisaria de muito mais material, nomeadamente ir a S. Antão e conhecer os lugares que ela pisou e que povoam a sua memória, ouvir as pessoas com quem ela conviveu, saber das coisas que ela fez, beber-lhe a voz, colher os gestos, escutar-lhe os silêncios. O resto ficaria por conta dos pozinhos de perlimpimpim da ficção. Ou então, alguém que o faça. Tu, por exemplo, que a conheces. Adiante. Só vi o teu Post no passado dia 6, já tarde. Desde então tem acontecido um inferno em lume brando. Não sei se sou eu que não a deixo, ou se é ela que não me deixa, mas pouco importa. Tenho tentado dialogar com aquela senhora, com aquele rosto, com aqueles sinais, e o que tenho tido por resposta é aquele silêncio fértil que me leva a dar velas à imaginação e andar à bolina sem outro mapa ou bússola que os pontos cardeais daquelas rugas, dobras e vincos. Um rosto paquidérmico. Soberbo. Esmagador.

Se algo de sintético pode ser dito deste rosto, magnífico mapa-mundi existencial, palimpsesto onde o mundo com espanto se mira num olhar de Narciso cego. Creio que tudo o que há para dizer caberá nesta frase de Francisco Umbral: “Estamos todos cara a cara com a verdade.”. Poderia ficar por esta síntese. Encontro nela a justa medida, a medida possível da impossível medida que a contenha. Mas se a tarefa imensa excede a medida de quaisquer palavras, e quando tudo recomendaria silêncio, eis que me vejo na incontinência de falas que me assolam, reclamando vozes que espelhem o que vai no rosto abismado da minha alma, face a face com esse rosto de silêncio e deslumbramento. Obrigado pelo retrato. Não é a primeira vez que as tuas fotos reclamam de mim a cumplicidade de um comentário. Não será a última. Desta vez se tivesse juízo teria ficado mudo e quedo. Repito, aquele rosto pede não apenas um poema, mas reclama um romance inteiro. É um rosto com história(s) para contar. E conta-as. Basta escutá-lo. O que tem sucedido é uma produção contínua de poemas curtos e reflexões breves, num autêntico acto de paixão, pouco compatível com as urgências de um Blogue. Na verdade dei comigo a escrever um Diário, o diário da minha relação com aquele rosto, do meu diálogo com Nha Ilda. Mas há ainda tanta surdez a interferir com o que posso ouvir desse rosto. E este é ainda um rosto em escuta. E gosto de lhes inventar estórias, apor legendas, colar comentários, enfim, rabiscar todo um inventário de afectos e paixões. Gosto de me perder neles, de me apaixonar, de inventar a escrita que os lerá, porque é a mim próprio que leio na escrita que para eles invento. Um diário, apesar do nome, é sempre póstumo. Este não foge à regra. É esse diário que tenciono partilhar contigo quando sentir que está concluído, que o filão se esgotou. Dá-me pois tempo para tentar “inventar” o tal alfabeto de que falas. Mas a tarefa é imensa, já que este é um rosto inesgotável.

Li com emoção o teu Post. Reavivou em mim esta citação de Francisco Umbral que assenta como uma luva ao teu texto: “…a minha infância, agora, não é uma evocação nem um poema, mas uma coisa quotidiana que me está a acontecer.” Como te compreendo se a frase de Umbral corresponde, como penso, ao teu caso.

Para já deixo-te com estes 3 momentos, colhidos nos jardins de 3 grandes poetas, enquanto arrumo o tal Diário Póstumo. O primeiro fala da Nha Ilda de agora. O segundo, quem sabe, talvez seja a voz de Nha Ilda confessando-se a Nhô Neto. O terceiro e último poema (fragmento), retoma e fecha a primeira citação de Umbral. De novo Eurydice e Orpheu, actualizado o mito.


A velhice é um vento que nos toma
no seu halo feliz de ensombramento.
E em nós depõe do que se deu à obra
somente o modo de não sentir o tempo,
senão no ritmo interior de a sombra
passar à transparência do momento.
Mas um momento de que baniram horas
o hábito e o jeito de estar vendo
para muito mais longe. Para de onde a obra
surde. E a velhice nos ilumina o vento.

Fernando Echevarría



Lembra-te
Que todos os momentos
Que nos coroaram
Todas as estradas
Radiosas que abrimos
Irão achando sem fim
Seu ansioso lugar
Seu botão de florir
O horizonte
E que dessa procura
Extenuante e precisa
Não teremos sinal
Senão o saber
Que irá por onde fomos
Um para o outro
Vividos

Mário Cesariny



Assim bebi manhãs de nevoeiro
E deixei de estar viva e de ser eu
Em procura de um rosto que era o meu
O meu rosto secreto e verdadeiro.

Sophia de Mello Breyner Andresen

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ZCunha, sem mais palavras, man... Fica o convite - e o desafio - para umas férias conjuntas em Santo Antão.

Um abraço,

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Irás comigo?

Este, o lugar onde gostaria de te amar. Delicadamente. Impudicamente. Sós...

Permitira apenas que houvessem nuvens: assim pequenos fiapos a acenar do cume de Tope de Coroa como flores numa grinalda. Se, de noite, também estrelas, como é evidente. E Lua, se me fosse dada a ventura de esta estar em cio. De resto, apenas o passeio das mãos na tua pele nua. O silêncio entrecortado. O toque. Corpos em lenta me-ta-mor-fo-se...

Irás comigo à Chã de Feijoal no Norte da minha ilha, óh crioula?

("Silêncios" - foto de PD)

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Intintaçon

Tenho por mim que quando Deus fez Santo Antão, ou estava de muito bom humor ou Ele tava ta crê intentá cristõn na quel ilha... Vejam o porquê nas fotografias que se seguem, de Ribeira de Altomira (Concelho do Porto Novo) e do Lombo de Pico (em Ribeira da Torre).

("Pipita" - foto de PD)



("Pirilau" - foto de PD)

Deve ser por isso que antigamente por lá o pessoal tinha muitos filhos: vissarada tava começá logo na rótcha!!! rsssss.

Uma boa semana a tod@s. Cheia de vissarada...

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Recantos da minha ilha (1)


O povoado de Monte Trigo, no Concelho do Porto Novo. Fotografia tirada a partir do cume de Tope de Coroa, a 1979 metros de altitude, com uma lente de longo alcance. Ó Benvindo, êss ê pá bô...rs


("Monte Trigo" - foto de PD)

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domingo, 5 de setembro de 2010

Um recado para o ZCunha


Dás-me palavras, óh ZCunha?

Para este olhar, meu caro Zé. Este olhar, estas rugas, e estes cabelos brancos. De Nhá Ilda lá de Fajã Domingas Bentas, Ribeira da Torre, numa tarde qualquer de agosto. O marido Nhô Neto morto de uma queda de rotcha lá pelas bandas de Ribeirinha Curta, era eu ainda um puto de 7-8 anos (o grito de dor a passear-me ainda pela noite das minhas insónias...). Uma vida sem filhos. Quase-solitária. Noventa anos tem este olhar, ZCunha. Dás-me palavras, óh poeta?

Digo-te apenas uma coisa, ZCunha: estes rostos são páginas de uma história que se lêem com um outro alfabeto. Nem Alupecs nem José Maria Relvas. Ha-de haver outros olhos, outra disposição das coisas e dos significados, outras músicas...


("Um olhar sem palavras" - foto de PD)


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