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terça-feira, 5 de julho de 2011

Orgulho de ser CABOVERDEANO


Tenho um profundo orgulho de ser CABOVERDEANO. Orgulho dessas ilhas que me abraçam e deste mar que me cerca e ao mesmo tempo me liberta, deste meu torrão onde tenho enterrado o meu umbigo, destes cutelos, achadas, vales e montes, - ressequidos mas nossos! - onde de quando em vez colho os versos de um poema qualquer.

Tenho orgulho deste povo - de Santo Antão à Brava, de Praça Nova às esquinas de Ponta Belém, de Cabeçalinho às ruas de Roterdam onde um crioulo de Altomira nos cumprimenta com um inesperado lovód nome de Deus, para sempre seja lovód ali no restaurante Panorama. Tenho orgulho do olhar de Nhá Tunkninha lá de Fajã Domingas Bentas onde procuro adivinhar outras palavras para lá do silêncio, tenho um orgulho enorme das mãos calejadas do meu pai Junzin de Pólina por onde serpenteiam, entre sulcos, memórias construídas nas levadas de Pedrene, Ribeira de Gi, Borrónque e Ribeira de Patinhas, orgulho-me de ouvir do moço que me trata o peixe numa manhã de Sábado qualquer ali no cais de pesca da Praia que "ess kusa di PDM tem qui cumeça prumeru ê na nôs cabeça!". Tenho também orgulho do teu abraço terno logo de manhãzinha, minha preta, pois que a nação também se constrói com as mil formas de amor que vamos inventando...

Tenho um orgulho desmesurado na nossa história e nas gerações que nos antecederam. A geração de Claridade com quem descobri que "A minha principal certeza / é o chão em que se amachucam os meus joelhos doloridos / mas todos os que vierem me encontrarão agitando a minha lanterna de todas as cores / na linha de todas as batalhas". A geração do anti-evasão que, com as mãos crispadas sobre o pó destas ilhas gritaram bem alto "Não vou para Pasárgada!" (e procuraram ensinar-nos o caminho para nos libertarmo-nos da nossa renúncia, como diria o poeta anos mais tarde). Tenho orgulho da geração de Cabral e dos outros, que ousaram sonhar - muito antes que se tornasse realidade - que num dia como hoje estaríamos a celebrar aniversários da nossa independência entre discursos solenes na Assembleia e cóque & báfa na Rua 5 de Julho desta minha cidade. Tenho orgulho da geração pós independência que trabalhou na construção de um Estado que hoje pode erguer bem alto a sua bandeira e dizer sim senhor, valeu a pena! Tenho orgulho da geração de 90 que também ousou afirmar que era possível darmos mais um passo no nosso percurso colectivo e que poderíamos escolher os nossos governantes de forma livre e democrática!

E tenho um profundo orgulho também na nossa geração - nós, que temos a responsabilidade de termos nascido e/ou crescido num país livre, numa nação consolidada, num Estado independente e soberano. Temos a responsabilidade de continuar esta nossa caminhada de séculos, erguer bem alto novas bandeiras por que devemos continuar a lutar, como lutaram os nossos pais e os nossos avós pelas bandeiras sucessivas que foram fincando no chão crã destas ilhas. Temos a responsabilidade de lutar por um país mais justo e igualitário, com menos pobreza e crianças a andarem horas nos campos do Norte da minha ilha em busca de água, mais e melhor educação, mais e melhor saúde, mais e melhor bem-estar colectivo, mais e melhor cultura como elemento fundamental de afirmação da nossa condição humana - como diria o meu amigo Olavo. Sobretudo, um país com mais paz & amor, porque é com amor também que se constrói cidadania (já te tinha dito, minha preta...).

Tenho orgulho de ser CABOVERDEANO, dizia... E tu?


(... para o Crisanto Barros, Carlos Santos e Carlos Monteiro, depois da nossa gostosa conversa desta manhã em Quebra Canela.)
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