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segunda-feira, 31 de março de 2008

Mudança de profissão


Eu já decidi: vou mudar de profissão mais uma vez. Qual consultor qual quê! Vou virar negociante de banana. Isso mesmo: vendedor de banana.

Depois que pagamos 100 paus por uma bananazita ali no Hotel Prestige em Assomada, no último domingo, compreendi que estou no lado errado do empreendedorismo: negócio mesmo é vender banana, caramba! Onde estive todo esse tempo, hein?

E a explicação da moça do balcão, meu Deus! Quase que lhe roubei um beijo, tão emocionado que fiquei com a candura da sua explicação: “sinhor, na tudo hotel ê assim…”. Não é lindo, gente? Vá lá, apreciem a musicalidade da frase. Peguem-lhe o gosto, malta. “… na tudo hotel ê assim…”. Quase um poema, caramba! O mal foi suportar logo depois a gozação do Djack e do Afonso, que tinham comprado bananas ali no mercado ao lado, por 15$00. Tinham que me estragar a emoção, esses moços!

Por isso, anuncio-vos com toda a pompa circunstância, daqui deste meu cantinho intimista, que vou virar negociante de banana. Mas não bananas quaisquer, vê-se logo: só vou vender banana com pedigree. Com nome de família, raízes aristocratas, sangue azul, tipo assim coisa chique. Melhor: coisa com prestígio. Por enquanto vou lançar uma campanha para lhes escolher o nome (claro!, tem que ter marca, estão a pensar o quê!). Ofereço uma banana a quem me enviar a melhor sugestão de marca e slogan para a minha marca de bananas made in Sintanton. E vou negociar com o meu vizinho João Branco para acrescentar um café bem margoso ao prémio…

Poooorrrrrra!!!!

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sexta-feira, 28 de março de 2008

Vasculhando o baú 1

Para redimir-me deste silêncio de dias, e enquanto não me folga este relógio acelerado de projecto-de-empreendedor-por-conta-própria (eh eh eh), deixo-vos com velhos pedaços carcomidos do meu baú de memórias...


AZÁGUA


Era verde a cor dos teus olhos ali no sopé da colina naquela manhã de Agosto. Podia senti-lo, enquanto caminhava ainda trôpego de sono a teu lado, na mão direita o balaio com a cachupa guizada em banha de porco, duas batatas assadas, o termo de café, duas canecas e as colheres embrulhadas numa toalha quadriculada, que mamãe nos preparara para o dez-horas de logo mais. Assobiavas uma canção qualquer entre a farfalhar das folhas de bananeira ao redor e o cascalho quebradiço que me feria a sola dos pés. Nunca soube a letra da música mas tenho em mim que era alegre como o chilrear dos pardais que nos espreitavam dos ramos de ervilha.

Levavas ao ombro tua enxada no cabo longuilíneo de pau de goiabeira, e a tiracolo a algibeira de semear que mamãe costurara para ti, com dois litros de milho e uma mão fechada de feijão fava. De vez em quando interrompias o assobio para sorrir, como que para ti mesmo. E olhavas para mim com ternura de verde nos teus olhos de azágua, sim senhor, lembro-me bem, era verde a cor dos teus olhos ali nas veredas de Tapume e Pedregal naquelas manhãs de Agosto prenhes de sementeira.

Os espantalhos viriam depois quando despontassem à vida – e à esperança de boa azágua – as folhas tenras de verde rompendo a crosta da ilha. Milhos. Feijões. Pés de abóbora. Cruzes de caniço feito soldados em prumo, revestidas de trapos e sacos velhos acenando à brisa suave a tal ambição de milho verde. A ameaça silenciosa aos corvos e aos pardais de manhã à tarde, e a ameaça barulhenta do “toca-lata” com o Gilson, o Osvaldo Lis-Cóque e o César por-Déus, mais o xô pardal s´bi nó tópe d’tchê na covada Menél Gonçál manda dzêb s´êl pegób êl te matób, xôôôô pardaaaaal, que os moços do Cordas de Sol acabariam por popularizar mais tarde. (...)

Eram verdes os teus olhos quando te debruçavas sobre as covas de três quatro e cinco grãos de milho dois de feijão para espantar os fantasmas de secura e terra vermelha. Assim simetria na palma das tuas mãos, assobio na curva dos teus lábios e no dorso vergado sobre a terra, persistência no chão crã da ilha, enxada, teimosia, força. E a ternura de chegar a terra aos pés de milho primeiro, a monda e remonda depois, o cortar de flores antes do Sol a pino, a palha ressequida, e as espigas erectas sob nossos olhos de menino na pedra de prentém, camoca com leite de cabra e cachupa de milho de terra com toucinho e couve de Rabo Curto.

Hoje, vinte anos depois, ondê teus olhos verdes de azágua, Junzim d’Polina? Ondê tua enxada de cabo de goiabeira, ondê teu alegre assobio, tua algibeira de dois litros de milho e a mão fechada de feijão fava cruzada a tiracolo? Osvaldo Lis Cóque passeia nas ruas de Sóncente seu poema de juvita e óleo queimado, e eu – merda! – que faço eu aqui debruçado sobre a folha em branco como um moço entristecido? Há um mundo de internet lá fora, feijão enlatado com rolinhos de chouriço de Trás-os-Montes, festas do Fatiota ali no Flampa, cachupa guizada com longuiça di terra aos sábados de manhã lá na casa de pasto de Nhá Antónia no Plateau, cerveja gelada com búzio grelhado no barzinho de Achada de Santo António...

Ondê o verde nos teus olhos de minha azágua, pai?

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terça-feira, 25 de março de 2008

Blog de quel bon

Respondendo ao "apelo" de Igualdade na Diferenca (thanks pela escolha, Eury!).
Infelizmente posso escolher apenas dois (dura tarefa, JB, dura tarefa!):
1. Amante da Rosa - pelo aprendizado
2. Bem Dzide! - pelas memorias e pelas gargalhadas...

E poderia acrescentar ainda mais, sem repetir os que ja foram "nomeados": Sinta10 (pelo aroma da ilha...), Veredas (pela poesia...), etc.

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quinta-feira, 20 de março de 2008

Para ler

"(...)
Porem, o filhodaputismo diário, inclusive praticado por pessoas que pela sua formação, status social, cargos se nutre expectativas mais optimistas me indigna profundamente e no dia que ficar indiferente estarei próximo da vegetação e será então hora de mudanças (de rua, de cidade, de país, de nacionalidade…) "

Palavras do Olavo, num texto deliciosíssimo... Confiram.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Cosmetica 1

Cansei-me de negro. Agora quero fartar-me de verde até à exaustão. Cansei-me do branco-e-preto como o pipocar de letras na folha em branco. Hoje, quero apenas aconchegar-me na pequena cadeira de bambu na varanda e recordar o verde da ilha: não o castanho claro da rua empoeirada. Não o azul esbatido do prédio em frente. Nem tampouco a certeza incolor de ter que partir. Ou o colorido dos discursos que me chegam do palco. Verde! Verde, porra!

Como a menina dos teus olhos.



("Corda" - foto de PD)

segunda-feira, 17 de março de 2008

Movimento CBV (Coisas Boas da Vida)

Aí, pessoal da comunidade blogueira, convido-vos a todos a reflectirem por dois minutinhos sobre as coisas boas da vida. Nãããão! Prometo que ninguém terá sete anos de azar nem perderá o tesão se não o fazer. Mas vão ver a diferença e o prazer que isso da. Acostumamo-nos tanto a construir sonhos grandiosos, a criar expectativas enormes, que muitas vezes esquecemo-nos do imenso prazer que nos dá os pequenos nadas do dia-a-dia.

Eu já tinha feito este exercício ha alguns meses atras (ver aqui e aqui). O Café Margoso já avançou. Faça você também também...


("Dzemperin na Ponta do Sol" - Foto de Paulino Dias)


sábado, 15 de março de 2008

Palavras clandestinas

Era para eu me redimir dos mil pecados na curvatura dos teus lábios, as mãos trémulas de Março passeando na tua epiderme crioula. Era para eu ser poeta na menina dos teus olhos. Nem sei porque – caramba! – desisti a meio dos degraus que me levariam até o suor e o gemido cúmplice no deambular das horas. O verso e a nota de violão que amortecem pela calada da noite a distância, a saudade e o desejo na ponta dos meus dedos. Escrevo. Escrevo-te. Em desespero para que da folha não me fuja o poema e a memória. Rápido. Febril. Os meus dedos alternam-se entre o teclado e a taça de vinho tinto que me sabe a pecado. Alonga-se a madrugada pelas esquinas de Palmarejo. Adivinho seus odores de cerveja gelada, palavras ocas na mesa de um bar qualquer, uma porta que se abre si-len-cio-sa-men-te, um soutien que se solta com sensualidade quase poética, a calcinha arrancada na fúria de um desejo incontido, gemidos, cravar de unhas na pele suada, gritos, griiiiiiiiiiiiiiitoooo! Óh diab! O cheiro ocre de esperma que violenta a tal solidão das ruas à meia-noite, e o lençol amarrotado depois.

Era para eu te escrever um poema qualquer nesta noite de lua crescente…


(Foto de Nana Sousa Dias)


quinta-feira, 13 de março de 2008

Um outro lado

Bem, para justificar esta minha ausencia de dias, e ate que retome o verso e a nota, convido-vos a lerem estas regrinhas...