Google Translator

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Caminhando descobrindo descobrindo-se...






Recebi este poema do Francisco Weyl, o Carpinteiro de Poesia e do Cinema, a propósito das fotos que lhe enviei, da última andança dos "Caminheiros Sem Fronteiras", entre Rincon e Ribeira da Barca aqui em Santiago no dia 26 de Agosto último, passando pelas belíssimas localidades de Águas Belas e Achada Leite.

Valeu, Francisco!!! E boa estadia lá em Belém do Pará - estamos à tua espera para mais noites de poesia cá na Praia, ó Carpinteiro!

............

Mas por que é que as pessoas caminham,
perguntou este àquele um,
logo, um longo silêncio abraçou-lhes.

Este um indagado, indaga-se a si próprio
na sua essência e pensa
que jamais conseguirá obter a resposta.

Nem mesmo em seu coração,
pelo que torna-se desde já um homem de pedra.

Aquele outro indagador provoca-se e projecta-se
neste outro que não lhe responde.

Assim, estes dois, mudos com a sua própria consciência.

Mas, estes que caminham,
estes que os vemos a caminhar,
por que seguem eles por estas estradas?

Por entre estas vias tortuosos, sinuosos, a subir, descer,
ora acelerados, ora em ritmo lento,
cada um deles ensimesmado,
fazendo do seu caminho a metáfora de suas próprias vidas.

Caminhamos todos, caminham estes questionadores
e estes sem respostas.

Caminhamos por estas respostas que nos surpreendem
e que nos revelam, mas que não nos expõem,
pois o que buscamos está dentro de cada um de nós.

Vejo estas fotos, meu caro Paulino,
não do outro lado do oceano,
mas dentro de meu próprio oceano,
com estes olhos de Machado (de Assis):
mareados.

Olhos de lágrimas e de recordos, contraditoriamente, alegres,
destes caminhos que trilhamos enquanto seres humanos
nestas terras que vislumbramos para além desta Terra que habitamos.

Caminhamos uns ao lado dos outros, companheiro Paulino,
mas no fundo sabemos que nosso caminho a gente faz sozinho,
pois que a solidão da morte é o único destino.

Esta morte tão esperada,
esta morte, anunciada, aceitamo-la
neste caminho da vida.

Esta vida construída a cada passo, juntado,
a cada paso, dado,
a cada passo disparado.

Estes passos ofertados em comunhão de irmãos,
de mãos e braços, abraçados,
corpos, rotos, robustos, refeitos deste jeito que sabemos ser,
neste ser que somos enquanto andamos.

Caminho convosco, mesmo sozinho em meu destino.
.................


(Obrigado pelas fotos, vê-las faz-me sentir dentro delas.)
-- FRANCISCO WEYLCarpinteiro de Poesia e de Cinema

4 comentários:

Eurídice Monteiro disse...

Oi Lino

Da próxima vez, convida-me para a caminhada!

Nunca percorri por aqueles caminhos, mas fiquei com vontade de provar o sabor do mergulho naquelas praias de ondas mansas.

Já dei um mergulho numa praia em Ribeira da Barca, mas nunca passei pelas belíssimas localidades de Águas Belas e Achada Leite.

Mesmo angustiada com o brilho da terra seca e imaginando o calor que se fazia sentir, aceitei logo o convite feito pelas fotografias e atirei-me de cabeça para desafiar as ondas.

Paulino Dias disse...

Alô, Eurídice,

Fazemos uma caminhada no último domingo de cada m~es para descobrir os recantos de Santiago, e posso te dizer que esta ilha tem lugares belíssimos. Aguas Belas é uma delas, pena que destruíram a praia com a apanha da areia.

Ontem soube que um dos lugares onde passamos (Baía do Inferno), costumava ser um esconderijo do corsário Francis Drake... Assunto a investigar.

Abraços,

Eurídice Monteiro disse...

Olá

A problemática da apanha de areia preocupa-me bastante! O meu concelho (São Miguel) confronta-se com essa problemática.

Cheguei a escrever um post sobre isso ("Sonhei com Flamengos" - Julho).

Sei que vários outros concelhos enfrentam o mesmo problema, pelo que torna-se necessário pensar em soluções conjuntas.

Infelizmente a pobreza das ilhas e, em particular, o desemprego no meio rural, leva várias pessoas a procurarem alternativas muito pouco favoráveis ao nosso meio ambiente.

...

Bjs
Eury

Paulino Dias disse...

Tem razão, Eury... O problema é complexo, mas penso que não se deve resolver um erro (a pobreza é sempre um erro) com outro erro. Conversei com um agricultor em João Gago, um belíssimo vale perto de Ribeira da Barca, que nos disse que a salinidade já está a inviabilizar a agricultura no lugar...