Claro está, veio logo esta minha mente perversa de economista com as suas continhas, para perturbar-me o que devia ser a magia do momento e a poesia. Com uma elevada percentagem da população do país considerada “pobre”, quantas famílias podem, neste momento, “dar-se ao luxo” de gastar 500$00 por pessoa para desfrutar de umas horas entre os monumentos da Cidade Velha? E se a família tiver, digamos, quatro membros? Parafraseando o meu amigo João Branco, à melhor resposta ofereço um café e uma banana “Prestige”!
Sou um defensor da economia da cultura, Sr. Primeiro Ministro. Que a cultura também pode (e deve!) ser utilizada como factor de desenvolvimento – material, social, mas sobretudo pessoal e intelectual. Mas, na minha modesta opinião, não é transformando a cultura em produto de luxo que vamos poder atingir este desiderato, pois que corremos o risco de promover a dissociação entre o povo e a “sua” cultura, transformando-a apenas em algo artificial e sem “alma”, ou produto mercantil “para os outros” (isto é, meramente para os turistas loirinhos de olhos azuis com as suas câmeras Cannon a tiracolo - ou para os que podem pagar).
E eu que vivia exortando os meus alunos a visitarem os nossos lugares históricos e de relevância cultural como parte da sua formacao como gestores…
Já agora – e porque cidadania não é apenas criticar mas também participar na busca de soluções – permita-me sugerir que se adopte o que já vem sendo feito noutras latitudes: os cidadãos nacionais passarem a ter direito ao acesso gratuito aos seus monumentos históricos. Assim, quem sabe não retome um velho hábito meu de sentar à tardinha num dos extremos da Fortaleza da Cidade Velha ta oiá Sol ta cambá trás de vulcão de Djar Fogo…
26 comentários:
Oi Paulino,
lembro-me da tua indignação no dia que a gente se encontrou lá na fortaleza. Eu tb tenho esse hábito de pegar esse por-do-sol na fortaleza e já passei por essa. Hj em dia quando vou lá, contorno a fortaleza e vou me sentar lá em baixo do PORTON. Aí tb dá pra disfrutar uma vista sensacional.
Concordo contigo, limitar o povo no acesso à sua própria cultura e patrimônio é uma violação de direitos.
Tenho investigado essa questão de economia da cultura e já há elementos norteadores de politica internacional (convenções da unesco) e práticas de outros países que indicam que a cultura é uma área complexa que deve ser perspectivada sobre 3 grandes dimensões. Cultura enquanto um direito e cidadania, cultura enquanto cadeias de actividade económica e cultura na sua dimensão simbólica.
Entendendo que a cultura terá um papel de influenciar e impulsionar o crescimento da outras areas de acção humana, a gestão da política cultural redutora em apenas alguns aspectos dessas dimensões coloca-nos sobre graves riscos de perda de identidade e de posicionamento enquanto povo criolo.
Bali, bom kritika!!
Alo, Tide!
Thanks pelo coment, pela dica (sobre o por-do-Sol) e pelos valiosos ensinamentos.
Tenho-me interessado pelo tema economia da cultura e ja tenho alguns materiais muito bons recolhidos na net. Se tiveres dicas e materiais, depois podemos marcar para trocar e discutir o assunto, ok?
Sei que ainda este ano vai ser organizado um forum sobre Cultura em CV, e que um dos temas podera ser este. Porque nao preparas alguma coisa sobre isso para apresentar? Desafio eh eh eh...
Abraco,
Paulino
-em lisboa até os lisboetas pagam para entrar no Castelo São Jorge...
-é bem mais "rentavél" a nivel intelectual falar da industria cultural de que de economia da cultura porque,ao contrario desta ultima,naquela é utilizada perspectiva de economia,de sociologia,antropologia e geografia da cultura...daí a nova "moda" na investigaçao universitaria nessa area:"as cidades criativas"!
Anonimo,
Muito obrigado pela tua contribuicao. Em relacao ao Castelo de Sao Jorge, uma amiga minha tinha-me referido que os naturais de Lisboa nao pagam para entrar. Podes confirmar-nos isso p.f.?
Abracos,
Paulino
Creio que tanto pode-se falar de economia da cultura, indústria da cultura ou até em indústria criativa, mas não vejo que tenha a lógica que o anónimo aponta.
O Paulino poderá ter outros contributos mas vejo que a economia é uma ciência de elevado potencial sistémico, portanto abarcando, tocando e coloborando com as diversas áreas.
E vendo a nossa cultura como está, entendo que a investigação deve buscar compreender a base de sustentação ou de geração de valor com base nas manifestações, produtos e serviços culturais.
Agora para falar de indústria de cultura teriamos de ter pela frente alguma coisa, ou sectores produtivos. Nos Estados Unidos faz todo sentido falar em indústria cultural e até no brasil, mas lá eles já entenderam que há sectores de cultura que ainda não estão preparados para lógicas de mercado, daí a necessidade de se compreender as bases de fomento, os elementos catalizadores que possibilitam o desenvolvimento e sofisticação.
Bali, bom tema
TD
Alo, Tide,
Excelente contribuicao para o debate, pa! Vejo que temos aqui material para uma troca de ideias salutar e necessarias!
Volto ao assunto mais tarde, vamos aguardar outras contribuicoes.
-Paulino,os lisboetas não pagam a entrada no Castelo São Jorge mas tens de ter um comprovativo de morada ctg...o resto do pessoal paga 5 € e existe descontos para operadores turisticos,estudantes,grupo escolar,crianças de menos de 10 anos,etc...
-Tide,eu não disse que não se pode falar de economia da cultura;apenas disse que é mais interessante e mais desafiante discutirmos o conceito de Industria Cultural pq ela,ao contrario da economia da cultura,engloba todas as perpesctivas sobre a cultura e,por isso mesmo,é mais sistémico que a economia da cultura.A industria cultural,em si,faz referencia:
1-a base economica da cultura (os seus custos,a sua vertente comercial e de marketing,o seu impacto financeiro,etc)
2-a base sociologia da cultura (a caracterização dos agentes privados e institucionais da cultura,o perfil do publico da cultura,os habitos culturais duma populaçao,etc)
3-a base antropologica da cultura (os hábitos e costumes culturais de um povo)
4-a base geografica da cultura (comparar a dinâmica cultural entre cidades,paises e/regioes)
Por fim,falei numa nova e crescente area de investigaçao académica nessa area que é a "Cidades Criativas": essa temática analisa as cidades criativas não só em termos culturais mas também onde existe uma intensa inovaçao tecnologica/empresarial...
Alo Anonimo,
Thanks uma vez mais pela valiosa contribuicao, que enriquece sobremaneira esta discussao. Em relacao ao Castelo de Sao Jorge era esta a informacao que me tinham dado, valeu pela confirmacao. De qualquer forma ja eh um avanco em termos de acesso da populacao local aos seus monumentos.
Penso que esta discussao neste momento centra-se em duas perspectivas: i) a cultura como industria (a tua proposta), que permite uma amplitude de analise maior, abarcando nao apenas a economia da cultura mas tambem as suas outras bases (sociologica, antropologica, de producao cultural, etc.). E ii) a proposta de abordagem da economia da cultura sugerida pelo Tide.
Em comum, as duas abordagens tem, a meu ver, a assumpcao da cultura tambem no seu papel de motor de desenvolvimento economico. O que as diferencia, se calhar, eh apenas a amplitude de analise.
A respeito da industria da cultura, permita-me introduzir um outro elemento na discussao: a percepcao do que temos de "industria". Apesar de no contexto em que a aplicas, ser um conceito muito alargado e metodologicamente mais completo, temos no entanto uma percepcao muito restrita e limitada da palavra "industria", conotando-a automaticamente com UM sector da economia. A minha pergunta eh ate que ponto esta percepcao limitada de "industria", aplicada a cultura, podera distorcer a visao que julgamos necessaria para a cultura caboverdeana. O que achas?
Aqui, se calhar, veria uma maior praticidade na abordagem do Tide - que nao abandona, note-se bem, as interacoes entre a economia, a sociologia, a antropologia, quando aplicadas ah cultura.
Abracos,
Paulino
Paulino,
-esqueci me de dar-te uma informaçao importante:os lisboetas passaram a nao pagar a entrada no castelo de sao jorge após a mudança do presidente da camara de lisboa (promessa de campanha nas eleiçoes antecipadas para CML).
Quanto a tua questão,em primeiro lugar,temos de discutir e saber que cultura cada um julga ser necessária para o país...queremos uma cultura onde teremos um "mercado cultural" como regulador das relações entre os artistas e o publico?queremos uma cultura onde o Estado (Min. da Cultura)é o principal agente dessa relaçao?Ou será um "misto" das duas?
Essas questões,por sua vez,levam a outras dúvidas:
-que dinâmica queremos configurar para esse mercado?
-que publico consumidor para esse mercado?esse publico existe?
-será que as empresas estão dispostas a participar atraves do mecenato?
-e,os artistas,será que estão preparados para deixarem de ser subsio-dependentes (aqueles que são)?
Como esses,poderiamos elaborar inumeras outras questões...Como sociologo,poderei dizer-te que uma industria,qq ela,é socialmente construida;portanto,tem de ser levado em consideraçao todas as relações sociais entre os diferentes agentes e instituições da area cultural que influencia a criação dessa industria cultural.
A temática é interessante para um debate mais profundo...
Abraço
Não faço ideia com quem estou falando, mas entendi e argumentei outra coisa.
O que faz mais sentido:
- Falar de Indústria cultural num país onde o produto cultural mercatilizavel, se quiser assim, está quase todo lá fora? Ou,
- Falar de economia de Cultura num país onde todas as actividades produtivas carecem de políticas adequadas, legislações compatíveis, estruturas orgânicas sustentáveis, etc, além de um exíguo mercado interno?
Note que entendo que está a referir-se à Indústria num sentido ampliado e daí entendendo que a economia é a ciência que estuda a alocação de recursos produtivos, não vejo como partir da Indústria.
E tu Paulino? o que achas disso? O que é mais amplo? Economia ou Indutria?
1ove
Anonimo,
Muito interessante (e pertinente) o rol de questoes que levantaste. No fundo, o velho debate entre a presenca ou nao do Estado, agora aplicada a cultura. Este ponto eh de suprema relevancia no momento em que o pais atravessa, e penso que dever-se-ia ate abrir um debate publico para reflectirmos todos sobre isso. De quem eh a responsabilidade para o desenvolvimento e preservacao da cultura.
Vou te dizer o que penso sobre isso: apesar de ser um entusiasta da utilizacao da cultura como factor de desenvolvimento economico, penso que em algumas etapas e elguns sectores da cultura, as leis de mercado nao podem ser aplicadas sob pena de se afectar exactamente o substracto antropologico/simbologico que lhe esta subjacente. A dimensao "simbologia" da cultura que o Tide referiu no primeiro coment nao se compadece na maior parte das vezes com a mecanica do mercado pois que podera desembocar numa profunda contradicao. Um objecto/manifestacao como "simbolo", na minha opiniao, tem um valor intrinseco que lhe eh atribuido pelo individuo "produtor" (nao sei se a palavra exacta nesse contexto seria essa), - nao necessariamente um valor mercantil - que podera ser diferente do valor percebido pelo "consumidor/comprador", especialmente quando as duas partes tem paradigmas socio-culturais diferentes. E aqui, quando a divergencia eh muito grande, podera ser dificil aplicar um "preco", se percebermos o preco como o ponto de encontro entre as percepcoes de valor do vendedor e do comprador.
Dai que o Estado tera que ter alguma intervencao para equilibrar esta balanca, nomeadamente atraves de politicas fiscais, politicas educacionais, etc. No entanto, defendo igualmente que a sociedade - aqui incluindo os proprios agentes da cultura - deve chamar a si tambem a sua quota de responsabilidade nesta materia (e acabar um bocado com essa choradeira que se assiste um pouco por todo o lado, quase todos a espera do "apoio" do Estado...).
Resumindo este coment que ja vai longo: fico pelo cenario "um misto das duas", ou seja, o Estado E a sociedade civil.
Abraco,
Paulino
Tide,
A minha opiniao em relacao a este ponto - se industria cultural ou se economia da cultura: julgo que se trata mais de uma questao de terminologia, embora quanto a mim a expressao "industria da cultura" no contexto actual seja menos atractiva, pelas razoes que expliquei num coment anterior. "Industria" soa-me bastante a mera mercantilizacao da cultura, reduzindo-a a dimensao de producao de bens e servicos culturais para vender aos outros, desvirtuando-a (na percepcao das pessoas) da sua "alma" como simbolo e como direito a que referiste.
Compreendo que a abordagem do Anonimo eh muito mais abrangente do que isso. Mas nessas coisas de se definir e implementar estrategias, a sua comunicacao eh um pilar fundamental (como estivemos a discutir outro dia ali no Plateau...), dai que essa questao de percepcao assume uma importancia maior, se quisermos embarcar a sociedade numa determinada visao de que cultura queremos (agora fazendo a ponte com a pergunta muito bem levantada por Anonimo).
Um abraco,
Paulino
Boas,
Tide aquilo que defendes como Economia da Cultura entendo como Politicas Culturais que vai buscar contribuições não so da economia mas tambem da sociologia e da antropologia.Parece-me que defendes o Estado como principal agente e "agenciador" ou mediador do meio cultural...Não será útil fazermos antes uma Avaliação das Politicas Publicas nessa area?(uma avaliaçao cientifica e nao baseado em meros opiniões).Outras questões Tide:pq é que os nosso produtos culturais que são comercializaveis lá fora não podem ser comercializaveis cá dentro?e pq não pensar que os nossos produtos culturais são globais,portanto,comercializavel tanto la fora como ca dentro?
acho que não vos expliquei muito bem o que quero dizer quando falo na Industria Cultural:utilizo esse conceito não como a mera "comercialização" dos produtos culturais como me parece que entenderam mas sim enquanto um conceito sociologico elaborado na Teoria Critica da escola de Frankfurt pelo Horkheimer,Adorno e Marcuse (aqui poderas ver como é utilizado a comunicaçao pela industria cultural).
Concordo contigo Paulino,o papel do Estado é importante em qq area em CV mas tb há de haver "brio" por parte dos artistas para construirem o seu próprio "mercado" e acabar com aquilo que chamaste de choradeira...abraço (e obrigado pela oportunidade de participar nessa discussão)
Um dia Djinho Barbosa escreveu isto no seu blog:
«Enquanto não houver uma certa forma de "perigrinação nacional" aos locais, uma necessidade de reencontro com a nossa história nos becos deste passado criolo, o caboverdeano continuará a ser coxo, manco mesmo.»
Pois é, Paulino, muito dificilmente conseguiremos essa tal peregrinação, se formos obrigados a pagar tanto para desfrutar dos nossos sitios históricos. Sabemos que por cá se 20 pagam, 80 não poderão pagar. Já agora, oxalá nas próximas eleições alguém venha a fazer um "paste" da promessa tuga em relação ao Castelo de São Jorge.
Eis o link para o post do Djinho:
http://sondisantiagu.blogspot.com/2007/10/cidade-velha-patrimnio-para-quem.html
Um abraço
Este tipo de discussão acaba sempre por originar a manifestação de alguma opiniões que são, acima de tudo, movidas pelo preconceito. O maior de todos é aquele que nos diz que os artistas são uns tipos lunáticos, meio loucos, parasitas, que não fazem nada sem o Estado pagar para que eles façam alguma coisa, coisa essa que ninguém entende muito bem o que seja nem para que serve. Daí acabamos sempre por falar no «choro», na «subsidiodependência», etc.
Mas, meus caros, os artistas cumprem um papel FUNDAMENTAL na sociedade. Tal como os professores, os economistas, os médicos. E se o aparelho do Estado contempla, e bem, a contratação de médicos para os hospitais públicos, professores para as escolas públicas ou economistas para os institutos públicos, porque razão não pode (e deve) o Estado contratar artistas para realizarem o seu trabalho? Claro, que para isso é preciso haver condições. Os médicos não trabalham se não houver hospitais, os professores não leccionam, se não houver escolas. Os artistas precisam de espaços, muitos deles públicos, para poder exercer a sua função, sejam auditórios, salas de ensaio, ateliers, escolas de arte.
Claro que também no campo da saúde, educação, economia, existe um sector privado. E ainda bem. Mas o Estado tem por dever consagrado na Constituição zelar para que todo o cidadão cabo-verdiano tenha acesso a bens de saúde, educação, saneamento e cultura. Não pode abstrair dessa função. Muito menos ainda num Estado como Cabo Verde onde a componente da produção artística - seja ela artesal ou industrial, profissionalizada ou amadora - tem sido, desde sempre, um dos principais pilares da afirmação de Cabo Verde como Nação livre e independente.
To be continue...
Abraço
Alo, Benvans,
Bem colocado, thanks pela referencia!
No dia em que aparecer um politico a fazer esta promessa, decerto vai despertar a minha atencao...rs.
Abracos,
Paulino
Alo, JB,
Thanks pela visita e pela valiosa participacao no debate.
Entretanto, concordo apenas parcialmente contigo. Note num dos meus coments anteriores, que assim como tu, sou de opiniao que o Estado tem um papel importante a representar no desenvolvimento da cultura, entre os quais na criacao de condicoes logisticas, na adequacao de politicas fiscais e outras, etc. A cultura, pela sua propria natureza, mormente num pais estruturalmente fragil como Cabo Verde, nao se compadece com as leis de mercado tout cour.
Contudo, quando eu me refiro a "choradeira", critico particularmente uma certa tendencia de passividade de accao que se nota em varios sectores da nossa sociedade - entre os quais, sim senhor, o sector da cultura -, uma certa cultura de dependencia (de espera pelo "outro", seja esse outro o Governo, o Ministerio da Cultura, a Camara Municipal, a ONG ali na esquina, etc.).
Ha excepcoes, naturalmente. Pessoas/agentes que sem esperarem pelo Estado, conseguem com muita criatividade, esforco pessoal e dedicacao, alcancar resultados notaveis que nos orgulham a todos. Mas ha, infelizmente, o outro lado da moeda. Basta assistirmos os telejornais (tente contabilizar o numero de vezes que surge a expressao "no precisa de apoio"...), para percebermos isso.
Eh necessario que os nossos agentes culturais assumam mais a responsabilidade de se organizarem para encontrarem por si sos solucoes para os problemas da cultura. Eh necessario que os artistas aproveitem e apliquem o seu potencial criativo intrinseco, tambem para resolver os seus proprios problemas. Num Governo onde o Ministerio da Cultura tem apenas 1% do Orcamento do Estado, nao me parece "eficiente" ficar a espera do Governo para tudo o que eh manifestacao cultural. Independentemente da critica que se pode fazer a essa distribuicao do "bolo".
Abracao,
Paulino
João,
concordo sobre a utilidade dos artistas nas escolas de arte,mas,para além disso qual é a utilidade de ter,por ex,um pintor profissional,um dançarino profissional ou um escultor como funcionario publico?
Sabendo que o Min. de Cultura so tem 1% do orçamento do estado,como é que o Estado podera pagar e manter esses quadros de luxo?(luxo aqui não é pelo o que poderão ganhar mas sim por causa da natureza do seu trabalho)
Por outro lado,na esteira do que disse o Paulino,e,como disseste,sabendo que não existe escolas de arte,salas de ensaio,ateliers e auditorios,pq os artistas não se organizam para criarem uma associaçao ou empresa para explorar,empresarialmente ou não,estas "lacunas" em vez de esperar que o Estado resolva o seu problema?
Vocês só podem estar a brincar comigo! Olhem lá, a grande maioria das criações artisticas e culturais que tiverem lugar em Cabo Verde desde a independencia, no campo da música, da dança, das artes plásticas, do teatro, do cinema, da fotografia, aconteceram praticamente sem apoio do Estado de Cabo Verde. Não estou a dizer se isso é muito bom ou muito mau, mas é um facto.
E é sintomático que o Anónimo tenha se referido aos artistas como «quadros de luxo». Isso mostra precisamente o que eu estou a dizer: a não intervenção do Estado está a transformar um BEM DE PRIMEIRA NECESSIDADE, que é a cultura, num produto de luxo, só acessível às classes médias altas.
Que eu saiba, hoje ainda não há noticia da existência desses artistas funcionários públicos, vulgo, «quadros de luxo», e no entanto, em Cabo Verde discos continuam sendo gravados, os cantores continuam a cantar, os músicos a tocar, os bailarinos a dançar, os actores a actuar, os artistas plásticos a pintar ou esculpir, os poetas a escrever. Sabe-se lá em que condições e com que sacrificios! Que eu saiba não vemos à porta do MC filas enormes com esses mesmos musicos, cantores, bailarinos, artistas plásticos, actores ou poetas, de mãos estendidas a pedir esmolas ao Estado de Cabo Verde.
Nem sequer devia ser necessário pedir. O Estado tem a obrigação, do meu ponto de vista, de tornar os bens culturais, como bens de primeira necessidade, ao alcance de todos. De todos. Para isso é preciso haver condições para a formação, para a criação, para o fomento, para a investigação, para a promoção cultural. A todos os níveis. Se houvesse, efectivamente, uma politica cultural sustentada nessas bases, garanto-vos que não haveria tantos «mendingos culturais» por aí.
E dizer que é só 1%, coitadinhos, eles não tem dinheiro, não é justificação. Em primeiro lugar há que tentar saber como é gasto esse 1%. Que eu saiba, a grande fatia vai para a parcela denominada «despesas de funcionamento», onde se incluem funcionários públicos, alguns que garantem o funcionamento burocrático do Ministério, outros, ainda não se percebeu muito bem o que andam ali a fazer (esses sim, serão os tais «funcionários de luxo»!). Portanto, se há pouco dinheiro, há que arranjar maneira de o gastar melhor. Em segundo lugar, já é tempo de se adequar o discurso político à prática concreta. Se a cultura é o nosso «diamante», se a cultura faz mais por Cabo Verde do que qualquer Governo, como afirmou o nosso Primeiro Ministro, então há que investir mais. Muito mais. Se se descobrir em Cabo Verde uma mina de diamante, ela não vai dar dinheiro no imediato, nem no primeiro ano. É preciso, em primeiro lugar, investir. Para poder tornar esse diamante bruto, num produto de qualidade. Se 1% é pouco, e todos concordamos com isso, então aumente-se a fatia substancialmente.
Não é preciso ir muito longe, caros amigos. Vão ver, investiguem um pouco, sobre o trabalho do Gilberto Gil no Ministério da Cultura do Brasil. Está lá tudo.
Abraço
Mais uma coisa rápida, para responder à pergunta do Anónimo que questiona «sabendo que não existe escolas de arte,salas de ensaio,ateliers e auditorios,pq os artistas não se organizam para criarem uma associaçao ou empresa para explorar,empresarialmente ou não,estas "lacunas" em vez de esperar que o Estado resolva o seu problema?»
Está bem. Isso é tudo muito bonito. Mas porque raio ninguém faz essa mesma pergunta quando se vê o Estado a construir campos de futebol? Porque não se juntaram os clubes, futebolistas, árbitros e dirigentes e fizeram eles os estádios? Porque foi o Estado o dono dessa tarefa? É simples a resposta: porque ao Estado compete criar condições para que todo o cidadão tenha condições para a prática do desporto. Nada mais certo. Com a cultura, é precisamente a mesma coisa. Dizer o contrário, é voltar a cair nessa tendência preconceituosa, que coloca a área cultural numa esfera diferenciada das obrigações do Estado, por um lado, e das necessidades da população, por outro.
Abraço
Alo, JB!
Mais uma vez, many thanks pela tua sempre valiosa participacao.
Comecamos a discussao sobre a economia da cultura / industria da cultura, e o debate esta agora a entrar numa area que tambem eh pertinente e interessante - a necessidade ou nao de maior presenca do Estado no sector da Cultura, e em que moldes essa presenca deve se efectivar. De qualquer forma essas duas dimensoes estao inter-relacionadas no que diz respeito a distribuicao das responsabilidades na promocao/desenvolvimento de uma "economia da cultura" (Tide) ou de uma "industria cultural" (Anonimo).
Bela discussao! Economia da cultura ou industria cultural? Mais Estado ou menos Estado na cultura?
Aguardemos mais participacoes no debate.
Abracos,
Paulino
Jõao
quer queiramos quer não,os atelieres,salas de ensaio e teatros,museus e entre outros instrumentos que reclamas,por enquanto,benefeciaria apenas uma parte da populaçao.Parece-me que são prioridades de cada governo e a sua sensibilidade...ou seja,os nosso politicos actuais acham que essas coisas da cultura é para a elite e,portanto,não devem perder muito tempo com ela porque a prioridade é o povão...pelos vistos,nem com um 1º ministro poeta conseguiremos mudar de prioridade.
ps:Paulino,Jõao,novo blogue criolo de uns amigos criolos- http://alibemtempu.blogspot.com/
Jõao
quer queiramos quer não,os atelieres,salas de ensaio e teatros,museus e entre outros instrumentos que reclamas,por enquanto,benefeciaria apenas uma parte da populaçao.Parece-me que são prioridades de cada governo e a sua sensibilidade...ou seja,os nosso politicos actuais acham que essas coisas da cultura é para a elite e,portanto,não devem perder muito tempo com ela porque a prioridade é o povão...pelos vistos,nem com um 1º ministro poeta conseguiremos mudar de prioridade.
ps:Paulino,Jõao,novo blogue criolo de uns amigos criolos- http://alibemtempu.blogspot.com/
João,se todos os artistas conseguem levar adiante a sua actividade sem ajuda do estado pq é que continua a haver "peditórios" que,muitas vezes,não passam disso mesmo,peditórios?pq aqueles que pedem não seguem o exemplo daqueles que conseguem "desenvencilhar-se" sozinhos?pq os outros não seguem as pisadas da cesária,d ildo lobo ou da mayra?pq outros não seguem as pisadas do kiki lima ou do Domingos Luisa?
È que,quer queiras quer não,se os artistas se unirem será mais fácil reivindicarem aos governos e às camaras municipais um auditorio,um museu ou uma sala de cinema nas principais cidades ao invés de alguns,individualmente,reclamar por ajuda financeira para editarem um cd ou produzirem um concerto.
Vitor,
Obrigado pela tua participacao no debate e pela dica sobre o blog. Bem vindo a este "barzinho da esquina" que eh o universo blogueiro.
Abraco,
Paulino
Paulino para mim a questão de economia/industria da cultura tem uma base comum e a diferença está só na terminologia. De outro modo senti do anónimo uma tendência pro-mercantilização do output das manifestações culturais, enquanto do meu ponto de vista nem sempre isso é possivel ou mesmo desejavel, daí a minha preferência para falarmos em sustentabilidade.
De outro modo estou 100% de acordo com o JB quando ele insiste na participação do estado, não mais com uma visão paternalista, mas um estado fomentador, impulsionador, regulador, fiscalizador, etc. O estado terá um papel fundamental em permitir que haja um ambiente para a manifestação das expressões culturais. É um equivoco pensar de outro modo simplesmente porque determinadas actividades culturais necessitam antes de tudo de protecção. Lançadas no mundo competitivo regido por regras do mercado, seriam rapidamente engolidas, transformadas e des-caracterizadas para sempre. Falo por exemplo do nosso artesanato!
É legitimo que a nossa cultura possa se desenvolver e que tenhamos pressa para que haja um verdadeiro boom cultural, mas isso não acontecerá a não ser que todos sejam envolvidos e se perceba as necessidades, fraquezas e contributos que se possa obter de cada área de actividade na esfera da cultura.
O JB citou o trabalho do Gilberto Gil no Brasil e aí tem-se um exemplo de politica cultural e intervenção equilibrada do poder do estado. Alguém havia dito ao Ministro GG que ele escolhesse uma área da cultura e intervisse, mas ele pensou mais alto e interviu de forma a reconfigurar a missão do próprio ministério e introduziu medidas de políticas que alteraram todo o quadro de gestão dessas politicas nas esferas de financiamento, fomento, incentivos que tem-se refletido no produto cultural brasileiro a nível todos os sectores como cinema, artesanato ou cultura indígena.
Ah e não subestimem o papel dos criadores e artistas no desenvolvimento da sociedade. Sugiro que vejam "A vida dos outros" de (Leben der Anderen, Das, 2006)
Bom debate!"
1ove
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