Queria a minha mente apenas dois minutos e trinta segundos de paz nesta tarde de Julho. Fugir de ti desarvorado como se das pragas que sobre o Egipto se abateram entre duas gargalhadas de Deus Nossenhor. Fugir, fugir, fugir, e quando me alcançasse o tédio – ou a desesperança, talvez – recostar meu ombro esquerdo no chão empoeirado de uma rua qualquer da cidade e ficar ali quieto como um poeta em lá menor, vendo o mundo a desfilar-se horizontalmente no lado de lá da tal ponte.
2.
Obriguei-me a ver o basalto negro da estrada entre Ribeira Prata e a capital nesta tarde de domingo. Segurei a fronte com as duas mãos em concha para que pudesse perceber a chuvinha miúda que caía no outro lado do pára-brisas. Cerrei depois as pálpebras para que me invadissem os acordes da música na rádio do carro. Pude até ouvir a voz e a relíquia. Ku furmiga ku tudo gosta. Ku furmiga ku tudo gosta…
3.
Mas a minha mente estava em ti. Inexoravelmente. Melhor: tu estavas em mim. Nos meus nervos dormentes sob a pele molhada ainda de chuva & sal. Na ponta de meus dedos a tamborilar qualquer coisa no recosto da cadeira em frente onde adormece o Hermano. No descerrar lento dos meus olhos que te procuram para lá do nevoeiro que nos nega a vista sobre o planalto de Achada Lém. Até no besame / besame mucho / como se fuera esta noche la ultima vez que comecei a assobiar baixinho para espantar a angústia de te saber distante.
4.
Estavas em mim. Todavia, distante como a palavra que nunca veio…
(Foto daqui)
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