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terça-feira, 29 de julho de 2008

Uma não-crónica sobre a última caminhada

Desta vez não vou escrever nenhuma crónica, vou logo avisando. Bastam as imagens abaixo, belissimamente captadas pelo Hélder Paz.


Não direi nada sobre o verde que já desponta nas encostas da Serra, calo-me extasiado no meio da neblina onde nos transformamos em vultos caminhando trôpegos de verde e de Santiago, não vou sequer escrever uma palavra sobre Nhá Joana, a minha patrícia de Lajedos em Santo Antão que fui descobrir lá em Figueira das Naus, para onde trouxe-lhe o destino e um cretchêu badiu lá das roças de São Tomé nos anos 60 do século passado. Nunca mais pôs os pés na ilha – diz-me entre um abraço e um suspiro silencioso…


Também não vou falar da chuva miudinha quase à chegada do povoado, que nos refrescou a pele suada e a nossa caboverdeana ambição de boas às-águas. Nem tampouco da bela praia de Ribeira Prata para cuja água morna nos atiramos feito meninos perdidamente felizes entre a chuva que agora caía a píncaros e as gargalhadas. Sobre o pontche da Maria Antónia e a cachupa temperada com carne de porco, nem um pio.


Mas poderei falar sim senhor – se me ajudar “o engenho e a arte” - do batuque improvisado ali no bar da Vika, onde a moça prende nas ancas o panu di terra quadriculado de vozes ancestrais, que nos reconstrói a síntese e o espírito da caminhada. Ali desembocamos todos, mais as nossas matrizes e as nossas almas de Santo Antão, São Vicente, São Nicolau, Santiago, Fogo, Guiné-bissau, Portugal, Escócia e EUA, convergimos todos si-len-cio-sa-men-te para o batuque, o rodopiar de ancas corpo & nervos, a alma em transe e o olhar parado a fitar qualquer coisa indistinta para lá da orla desta ilha, para lá da linha do horizonte…


Hoje, caros leitores, não direi uma palavra. Bastam as imagens abaixo, do Helder Paz Monteiro, escritor de imagens e nosso colega de caminhada…






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