Hoje, com este Sol de Sábado a lavar-me o rosto pela fresta da cortina, apetece-me poesia. Lambuzar-me todo de poesia, barbear-me em poesia, escovar os dentes com poesia enquanto me espreita o moço do outro lado do espelho com uma inexplicável alegria na retina dos olhos. Hoje – não há pilha de corpos esqueléticos em pós-agonia nem Deus nenhum que me impeçam! – vou embebedar-me de poesia…
Abro ao acaso A cabeça calva de Deus só para saber pelo Corsino que
“Mulher! Quando o céu da tua boca
Arrasta o corpo da terra
.................Até a goela da água longínqua
A febre conta no arco-íris
..............................Da carne que sangra
..................A montanha roída dos dentes…
E da cicatriz da mão
.................................brotam raízes
Que vicejam a memória dos séculos…”
Convence-me o Valentinous logo depois que também eu – sem o saber, caramba! - tenho o infinito trancado em casa. Segreda-me devagar ao ouvido (quase num sopro),
“Sabemos o que Deus no céu achou.
Não sabemos é do que na terra anda à procura”
Poesia, Velhinho, poesia. Ele por cá, anda à procura é de poesia, moço! Depois que Adão fez cagada lá no Paraíso e o soldado romano trespassou Seu filho com a lança, só a poesia é capaz de lhe curar a dor, digo-te.
Ah!, podem vir agora as deusas todas de navalha em punho para me dilacerarem a carne. Podem vir as hordas de bruxas e feiticeiras com suas poções, suas maçãs envenenadas! Podem vir!
“Eu estarei de mãos postas
à espera do tesouro que me venha na onda do mar,
E minha principal certeza
é o chão em que se amachucam os meus joelhos doloridos…”
("Ilha encalhada" - Foto de PD)
2 comentários:
Se o lugar é assim nada mais justo que a poesia aparecer.
Bem visto Rayol...rs.
Abraco,
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