Foi deliciosa esta caminhada de Junho, caramba! Primeiro, o próprio tempo meio encoberto, que noutras ocasiões diria que triste, mas que neste domingo percebi como que nos protegendo do Sol abrasador doutras latitudes. Depois o trajecto de hiace até Mato Baxu, mais as gargalhadas da São e da Raquel e as relíquias musicais do Tchico no toca-fitas do carro, que nos transportava para a memória de outros tempos.
E a caminhada propriamente dita… O belo vale de Tabugal que se recorta a nossos pés centenas de metros depois do povoado, a pequena descida até o fundo, e a surpresa no meio da terra acastanhada que nos cercava: verde. Verde, verde, verde! Água a escorrer de despenhadeiros que me sabem à outra ilha, plantações de inhame, agriões a perder de vista, mangueiras, canaviais, tanques de água – onde minha alma de menino da ilha não resistiu, obrigando-me a atirar o corpo para o meio da água tépida -, e mais água, e mais inhames, e mais verde, e mangas maduras, e água de coco, e mais bocas aberto de espanto e muda contemplação, e mais poesia, e mais ilha. Ilha de Santiago. Ilhaaaaaa!
Mas sobretudo o gesto, mais adiante. A solidariedade demonstrada pelos membros do grupo, na escola de Charco, quando entregamos às dezenas de crianças humildes os materiais escolares que recolhêramos para lhes oferecer. A magia do momento de dar um pouco de nós. Nestes tempos de individualismos exacerbados e egos que quase explodem sob a luz dos holofotes, crescemos sim senhor como seres humanos, sempre que damos um pouco de nós sem esperar nada em troca. Ali no silêncio do povoado – quebrado apenas pelas vozes infantis entoando-nos “Óh maleão maleão” e “Canta irmão, canta meeeeeu irmão!” – crescemos um pouco neste último domingo, alimentamo-nos de vidas outras que não a nossa pacata rotina de casa-trabalho-cometa-casa, lambuzamo-nos de estórias crãs que nos devolvem irremediavelmente à nossa condição de peças de um conjunto muito maior que a ponta do nosso umbigo, deglutimos silenciosamente a humildade – e a esperança, porra! – que aqueles olhares nos impunham, lá do chão onde se sentaram para nos ouvir as palavras. Ao menos nesse dia, felizmente, não foram apenas palavras o que receberam aqueles putos de Charco…
Deixo-vos com as fotos. Pena que a porcaria da máquina tenha esgotado a memoria sem que eu pudesse captar todos os momentos. Vou esperar pelas outras fotos do Helder Paz para partilhar convosco. O momento, o gesto, e o sentir. Inté.
(Fotos de PD)
6 comentários:
simplesmente, lindo!!!
E aí camarada, companheiro de caminhada...quem não foi saiu perdendo e para quem foi, para o mês haverá mais,não é Paulino?
O teu texto está simplesmente " maravilhoso" mas mesmo assim não há palavras que descrevem na íntegra tudo o que vivemos nessa caminhada maravilhosa,a paisagem deslumbrante por onde andamos, os rochedos e pedregulhos em que tropeçamos as "lascas" onde deslizamos nem as acrobacias da Simone ao fazer-se de Jane a mulher do Tarzan,eheheheheheh! el ta matame!Igual só em Santanton!ahahahah, ô non? Que ajam mais desse tipo e que a nossa gente continue sendo solidária para com os que mais precisam, é o nosso apelo de bons caminheiros!Já há novidades sobre o n/blog? e sugestões de nome do grupo? Eu estou matutando manente,manente...Abraço caminheira e até o mês que vem.
Maravilhosa caminhada!
Além das belezas que você mostrou, ainda essas crianças...
Gosto muito do seu jeito de escrever, de contar as histórias.
beijos, bom domingo.
Raquel,
Sentimos a tua falta. Nao va perder a proxima caminhada, hein! Abraco.
Rosalina,
Simone ta da cob d bo ta divulgal ses queda!!!! Mas foi bom mesmo, nao foi?
Saramar,
Thanks pela visita e pelas palavras.
Um abraco a todos,
Paulino
...eu sei que a caminhada foi expectacular mas cadê as restantes fotos?
Oi Anonimo, thanks pela visita.
Ja tenho as fotos "oficiais" do Helder Paz sobre a caminhada, prometo colocar algumas mais ilustrativas, ok?
Abraco,
Paulino
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