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sábado, 15 de março de 2008

Palavras clandestinas

Era para eu me redimir dos mil pecados na curvatura dos teus lábios, as mãos trémulas de Março passeando na tua epiderme crioula. Era para eu ser poeta na menina dos teus olhos. Nem sei porque – caramba! – desisti a meio dos degraus que me levariam até o suor e o gemido cúmplice no deambular das horas. O verso e a nota de violão que amortecem pela calada da noite a distância, a saudade e o desejo na ponta dos meus dedos. Escrevo. Escrevo-te. Em desespero para que da folha não me fuja o poema e a memória. Rápido. Febril. Os meus dedos alternam-se entre o teclado e a taça de vinho tinto que me sabe a pecado. Alonga-se a madrugada pelas esquinas de Palmarejo. Adivinho seus odores de cerveja gelada, palavras ocas na mesa de um bar qualquer, uma porta que se abre si-len-cio-sa-men-te, um soutien que se solta com sensualidade quase poética, a calcinha arrancada na fúria de um desejo incontido, gemidos, cravar de unhas na pele suada, gritos, griiiiiiiiiiiiiiitoooo! Óh diab! O cheiro ocre de esperma que violenta a tal solidão das ruas à meia-noite, e o lençol amarrotado depois.

Era para eu te escrever um poema qualquer nesta noite de lua crescente…


(Foto de Nana Sousa Dias)


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