Volto a dar de caras com a manhã fria neste planalto de Fajã, quando abro a janela do quarto. Tenho as pernas doridas depois das cinco horas de caminhada de ontem, entre Xoxô e Corda, com os meus amigos americanos Jim e Deborah. Mas valeu a pena, caramba!, penso cá com os meus botões. A bacia de Xoxô que se abre como uma flôr após contornarmos a curva do Canto, o famoso erotismo pétreo de Lombo de Pico com a sua torre que mais parece um pénis erecto. Não faltam as bolas, as mangueiras no sopé parecendo pentelhos eriçados, as gentes ao redor nas suas casinhas de telha e palha tinguinha... A vista do vale de Ribeira da Torre a partir das ladeiras de Losnã tem o sabor de um poema que nos enleva assim de repente. Assim como a cerveja gelada e o sorriso da Milú que nos espera no bar do Sr. Domingos de Bia em Corda, enquanto aguardo o carro para Povoação...
Há dias fui igualmente até Pinhão, com o Maica de Nhá Joana, que vive em França. Subimos pelo caminho de Tope, passando por Selada de Ribeirinha de Jorge, com o precipício da Ribeira de Pedréne no nosso lado direito, descendo depois até a Vila de Povoação. Sempre com Fajã lá ao fundo acenando-nos em belíssimas vistas lá do alto. Como é belo estoutro lado da ilha, pessoal! Fica o convite, Célia. E Zé Pedro. E os outros - colegas de caminhada em Santiago...
Doem-me as pernas, entretanto, quando volta a minha mente ao quarto nesta manhã quase fria. Minha filha Patrícia dorme ainda. Paro por alguns instantes para lhe rever os contornos da face. Afasto-lhe uma mecha de cabelo dos olhos e sorrio inesperadamente...
Crónicas de Fajã 7
No dia 27, Nhô Jõn Miguel e Nhá Titina completaram sessenta anos de casados. Houve festa rija aqui no Planalto de Fajã, como não podia deixar de ser. Com missa do Padre Ima, choros de emoção dos filhos que vieram de propósito, discursos do Miguilim, o filho mais velho, música & danças, o abraço apertado em jeito de parabéns, o pedido discreto a Nhô Jõn para que me ensine o truque. Preciso.
No mesmo dia foi o 98º aniversário da Didita, lá em Chã de Margaridinha. Nesta noite não brigou com Nhá Ilda, como de costume. Sorria, sorria sempre, enquanto o neto Pulitcha lhe rodava num mazurca pelo terraço da casa do filho Corsino. Quase que não lhe sinto mais o corpo quando lhe abraço por entre as lembranças de diazá que me assaltam no preciso momento.
A 29 deste mês teve mais aniversário. Desta vez foi a minha mãe Silva quem fechou a conta dos 74 anos. Dançou com o meu velho ali no corredor (alguns dos filhos e netos ao redor a bater palmas...). Até roubou-lhe um beijo, assim de repente, entre a gargalhada da assistência. Antes do apagar das velas e da primeira fatia de bolo. Antes do contar de estórias ali no corredor defronte. Antes do verso que deixo logo depois no bloco de notas sobre a mesinha de cabeceira, enquanto o sono não vinha...
Crónicas de Fajã 8
Logo à noite será a festa, ali no terraço do Ntone Santos. Enfeitaram a casa toda com ramos de pinheiros e fitas multicolores para a festa do final de ano, e tascaram-lhe poeticamente o nome de “Astro do Amor”, numa placa improvisada pelo Ney de Treza. Vou até fingir arrogantemente que foi tudo preparado por tua causa. Para nós dois: a música, os apitos, as gargalhadas, os foguetes que certamente ecoarão pelo vale à meia noite em ponto, os brados de Boas Festas que ouviremos do Pina, da Bia Tchabéta, do Octávio de Trezinha, do Roberto, do André de Tunkninha, da Nonóia...
Será tudo por tua causa - vou pensar cá com os meus botões. Até o poema que me chegará sem aviso prévio, e que sussurarei devagar no teu ouvido enquanto dançamos com os olhos fechados aqui na noite de Fajã Domingas Bentas...
No dia 27, Nhô Jõn Miguel e Nhá Titina completaram sessenta anos de casados. Houve festa rija aqui no Planalto de Fajã, como não podia deixar de ser. Com missa do Padre Ima, choros de emoção dos filhos que vieram de propósito, discursos do Miguilim, o filho mais velho, música & danças, o abraço apertado em jeito de parabéns, o pedido discreto a Nhô Jõn para que me ensine o truque. Preciso.
No mesmo dia foi o 98º aniversário da Didita, lá em Chã de Margaridinha. Nesta noite não brigou com Nhá Ilda, como de costume. Sorria, sorria sempre, enquanto o neto Pulitcha lhe rodava num mazurca pelo terraço da casa do filho Corsino. Quase que não lhe sinto mais o corpo quando lhe abraço por entre as lembranças de diazá que me assaltam no preciso momento.
A 29 deste mês teve mais aniversário. Desta vez foi a minha mãe Silva quem fechou a conta dos 74 anos. Dançou com o meu velho ali no corredor (alguns dos filhos e netos ao redor a bater palmas...). Até roubou-lhe um beijo, assim de repente, entre a gargalhada da assistência. Antes do apagar das velas e da primeira fatia de bolo. Antes do contar de estórias ali no corredor defronte. Antes do verso que deixo logo depois no bloco de notas sobre a mesinha de cabeceira, enquanto o sono não vinha...
Crónicas de Fajã 8
Logo à noite será a festa, ali no terraço do Ntone Santos. Enfeitaram a casa toda com ramos de pinheiros e fitas multicolores para a festa do final de ano, e tascaram-lhe poeticamente o nome de “Astro do Amor”, numa placa improvisada pelo Ney de Treza. Vou até fingir arrogantemente que foi tudo preparado por tua causa. Para nós dois: a música, os apitos, as gargalhadas, os foguetes que certamente ecoarão pelo vale à meia noite em ponto, os brados de Boas Festas que ouviremos do Pina, da Bia Tchabéta, do Octávio de Trezinha, do Roberto, do André de Tunkninha, da Nonóia...
Será tudo por tua causa - vou pensar cá com os meus botões. Até o poema que me chegará sem aviso prévio, e que sussurarei devagar no teu ouvido enquanto dançamos com os olhos fechados aqui na noite de Fajã Domingas Bentas...
3 comentários:
Estou a adorar as crónicas desse regresso às raízes... Parabéns! Fajã é de facto um lugar onde impera uma linda paisagem.
Feliz 2008, um novo Ano cheio de inspiração.
Ola, Margarida!
Thanks pelos coments, e votos de um bom 2008 para ti tambem.
Faja eh realmente um lugar muito lindo. Quando for a Santo Antao, nao deixe de visitar Ribeira da Torre, e particularmente o planalto de Faja.
Um abraco,
Paulino
Ohh Paulino, navegando por este blog, sinto constantemente no meu Sintonton, e mais ainda, ne nhe Rbêra do Torre
um 2008 superprodutivo
abraços
Benvindo
Enviar um comentário