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quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Crónicas de Fajã 5

Foi delicioso o Natal. Como há muito não tinha vivido. Não recebi presentes embrulhados em papel multicolorido. Nem me lembrei que deveria haver peru recheado, ceia à meia-noite, musiquinhas de gingle bells gingle bells a passearem pelos altifalantes da rádio. Não teve sequer árvore de Natal com profusão de luzes e bonecos da Virgem Maria com o menino Jesus ao colo numa manjedoura. Mas foi delicioso o Natal aqui na ilha.

Havia sobretudo um sorrir genuino, uma vivacidade nos olhares, uma certa poesia no abraço apertado do meu velho Junzim d’Pólina à meia-noite em ponto, um reviver antigos momentos cúmplices no beijo que mamãe deixou-me na face entre um Deus te abençoa e um Virgem Maria ta companhób na bôs passada.

E havia inesperadamente o teu sorriso a meu lado. A lua cheia que endoidecia no contorno das rochas do vale. Teu corpo encostado ao meu em comunhão & pecado. Assim, desprogramadamente. “Tempér de nhá catchupa, corda de nhá violon” – sussurrei-te baixinho só para te ouvir a gargalhada. O passeio de manhã à frescura de Xoxô, a cerveja gelada ali da loja do Calú de Adelaide à uma da tarde. O banho depois no tanque de Marrador e o guizado de cabrito na casa de Nhá Maria d’Antóna. O caminhar logo à noite abraçado a ti a ouvir a gostosa sinfonia dos grilos na ourela da estrada do vale. O poema que te declamei como o tal moço doido, ali na curva de Ribeirinha de Jorge às 19h50mn – lembro-me agora que a lua já despontava novamente...

Não teve gingle bells nem ho ho ho’s do velhinho de barba branca no planalto de Fajã. Mas foi naturalmente delicioso o Natal aqui na ilha, caramba!



("Fajã Domingas Bentas" - foto de Paulino Dias)

1 comentário:

Djoy Amado disse...

Viva Paulino!

Estas tuas crónicas de Fajã empurram-me agradavelmente para lembranças dos dias que passei pelas terras santantonenses, e muito especialmente, em Ribeira da Torre, a convite do Arlindo (conterraneo teu). Nós fomos como o grupo Bruma Seca constituido por mim, Tey Barbosa (irmão do Djinho ), Nhelas Spencer e Ulysses Português para tocar nas festividades do dia do município da Ribeira Grande (17 de Janeiro).
Prometo preparar um Post os momentos fantasticos que passamos em Ribeira da Torre, com fotos e músicas que tocámos num bar local (esqueci-me do nome. Provavelmente, deve ser o mesmo onde disseste ter saboreado uma cervejinha gelada).

Valeu pelas crónicas, que são autênticas fotografias de pura emoção.

Boas Festas