Google Translator

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A voz dos outos (5)


"(...) Nem sempre é pela porta de um sorriso, ou pelas frestas de um olhar, que um rosto acontece. E no entanto, lábios e olhos são lugares de colheita, objectos raros, oráculos de silêncio na acidentada geografia de afectos que cada rosto é.(...)"


Lembras-te, ZCunha? Este, fragmento de um poema que escreveste ao rosto de Nhá Mari Ricarda lá de Fajã Domingas Bentas. Peguei-o emprestado - sem te pedir licença, confesso... - para ilustrar um outro rosto da ilha. Há mil outros rostos à espera de um poema, ZCunha. Outros rostos, outras rugas, outras rimas. Vem comigo, ZCunha, à colheita de poemas nos rostos da minha ilha... Vem comigo, óh poeta!


("Mulher da ilha - foto de PD)

.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sim, lembro-me, ó poeta-caçador de rostos tropicais. Rostos solares, uns, lunares, outros, vivos e redivivos, todos. Sim, meu caro, como recusar tal desafio, mesmo que sem rima, essa sina da poesia antiga? Como recusar esse luminoso alfabeto de rostos que me propões, para que ousemos a escrita do (nosso) mundo? Como recusar traçar esse mapa de afectos, recusar beber dessa água fértil, recusar tomar em mãos a in-escrita pedra da memória? Irrecusável! Aqui estou, ao encontro das ‘vogais do teu silêncio’ dedilhando rostos nas noites de lua cheia. Vamos juntos ao encontro desse moço escrevinhador que nos espera ao dobrar da esquina, lá onde o poema mora, na dobra amordaçada de uma fotografia. (Parte final inspirado no teu Post de 17/FEV)


Para o Paulino


Cada rosto é um texto onde o tempo prosperou
Íntimo silabário que o tempo sobre a pele lavrou
Secreta música de pequenos nadas e muita cisma
Onde nenhuma lágrima é dado cristalizar em rima.

Nos umbrais deste rosto onde houve um dia
Alvorecer, brilha ainda solene incerta alegria
Que um poema nem sempre é feito de palavras
Como este rosto altivo, com suas marcas raras.

E se cada rosto é na sua vertigem
Uma fogueira de lágrimas por chorar
Neste arde ainda inteiro o silêncio do mar.

Do templo da infância ao tempo da origem
Tua beleza tem a sedução da terra virgem
Rosto onde o meu mundo se há-de inventar.

Alex

Paulino Dias disse...

Alô ZCunha,

Belíssimo poema, pá... Como sempre...
Obrigado pela visita, pelas palavras e pela poesia que nos desperta...

Abraço,
Paulino