Sério, pá!, estou a ficar cansado dos discursos, das palavras ocas, dos mundos que ou são pretos ou são côr-de-rosa (como se não tivéssemos o discernimento de confirmar por nós próprios). Irrita-me já os outdoors espalhados pelas ilhas e que me limitam a vista para a poesia do azul do mar, sabe-me a alguma hipocrisia os sorrisos de ocasião e os braços que se abrem para nos alojar como se tivéssemos sido a vida inteira cómpas de copo & bafa, caramba...
A minha mente não é campo de batalha, meus senhores. Muito menos espaço vazio onde (acham que) podem jogar toda a casta de porcaria em busca do meu alinhamento. A minha mente pensa, bolas! Escusam-se portanto de me enfiarem slogans elegantes goela abaixo, agradeço me pouparem dos e-mails ora verdes ora amarelos que me vêm enchendo a caixa de correio (já agora, apago-os sem os ler...), não tentem sequer me manipular com os vossos números e as vossas estatísticas, digo-vos!
Compreendo que estão a cumprir o vosso papel. Afinal, é a política, e há que catar votos para as próximas eleições... Para que fique claro que eu não sou contra a política nem os políticos: são elementos cruciais para a nossa vivência enquanto seres sociais. E, quando praticada com seriedade e elevação de espírito, a política é sem dúvida uma actividade nobre e útil. E o meu voto é - mais do que obrigação - direito sagrado: faça Sol ou faça chuva, lá estarei no dias das eleições para escolher quem irá governar este país em meu nome. A quem vou delegar o poder de tomar decisões que vão afectar a minha vida enquanto cidadão. Ah!, disso não abro mão!!!!
Por isso, para vos facilitar a vida na (dura) tarefa que têm pela frente para conquistar o meu voto, permitam-me deixar aqui algumas informações básicas, à laia de "termos de referência" para as eleições que se aproximam:
1. Eu não voto em partidos: voto em VALORES e ATITUDES. Isso é condição sine qua non para merecer a minha confiança e o meu voto. Valores correctos. Atitudes certas. Não me venham, pois, com rostos duplos: o rosto do político empedernido e discursos inflamados na Assembleia e o rosto que bate na mulher entre quatro paredes ou que "surrupia" electricidade no posto da esquina. O rosto que aprova leis de segurança na estrada e o rosto que passa por mim na avenida sem cinto de segurança e a falar no telemóvel. O rosto exalando seriedade sobre a gravata hermés no atelier-de-validação-de-qualquer-coisa e o rosto que na quietude da noite violenta a ingenuidade de menininhas de 15 e 16 anos em troca de patacos. Não me venham, portanto, com essas tretas, meus senhores e minhas senhoras! Para mim há apenas UM rosto no político que há-de conquistar o meu voto. A isso chamo ÉTICA e COERÊNCIA!
2. Eu não voto em bandeiras: voto em PESSOAS. Em competências técnicas reconhecidas, capazes de identificar e hierarquizar os problemas de Cabo Verde, construir soluções sustentáveis a longo prazo, mobilizar os recursos necessários e implementar acções concretas para melhorar a vida dos caboverdeanos.
3. Eu não voto em passados: voto no FUTURO. Que saibamos reconhecer o trabalho feito, sem dúvida. Mas por si só não conquistarão o meu voto, vou logo avisando. Quero, antes, saber o que pretendem fazer com o futuro deste país, com o MEU futuro. Por isso, escusam-se de perder o vosso tempo comigo alardeando o que cada um fez ou deixou de fazer... Falem-me, sim senhor, das vossas ideias para o meu futuro. As vossas propostas. As vossas soluções. O que VÃO FAZER nos próximos 5 anos.
4. Eu não voto em problemas: voto em propostas de SOLUÇÕES. Concretas, objectivas, estruturadas, com recursos devidamente alocados. Assim, não me façam perder tempo com retóricas vazias e dedos apontados. Quero antes soluções. O que propõe de concreto para o crescimento económico e distribuição de renda. A saúde, segurança e educação (a todos os níveis). As infraestruturas. O que pretendem fazer com a nossa cultura. A nossa memória colectiva. A juventude. O desporto. A agricultura e a pesca. Quais as soluções para que não me morram mais Eduardos e Bóias e Manecas nas ribeiras da minha ilha... Soluções, portanto. O resto passar-me-á ao lado, devidamente ignorado, aviso.
Já estou a ficar cansado destes discursos, dizia...
