Sábado de manhã de um Fevereiro quase como os outros aqui na cidade grande. Acordo com uma fresta de sol que me rasga a cortina do quarto e lembro-me de repente do compromisso com o Olavo e o Paulão: ir comprar peixe fresco ali no cais de pesca. Na rádio do carro tocam porton di nôs ilha enquanto rodamos pela marginal. Impõe-se o silêncio, para a poesia do momento. O cheiro é de mar. E ferro velho ao dobrar a curva da Praia Negra. Quando o mundo novo surgi...
Mocinhos, nhôs cumpra atum! Ali garoupa!!! O moço dobra seu tronco sobre o atum para a divisão por tres em troca de 200 merés. A faca afiada desliza ágil sobre a carne e num gesto rápido como um ditongo solta-lhe as guelras e as barbatanas. Os pedaços são cortados com uma precisão cirúrgica, de quem conhece o ofício.
Não, não trabalho aqui - afirma-nos o moço. Sou segurança, moro ali em Lém Ferreira. Mas venho aqui todos os Sábados antes de ir ao trabalho pa cata um kusa, às vezes antes das nove já tenho feito até dois contos. Nhôs ka ta atcha ma ´n stá drêtu? Si tudo kusa agora ê PDM nû tem qui ser PDM tambê na cabeça, ou não?? Fogem-me as palavras e entre nós volta a cair um silêncio de espanto. Depois de tantos discursos sobre o assunto, este, sem dúvida, a melhor abordagem de PDM que já ouvira. No cais de pesca num Sábado de manhã.
Fico ali com o olhar perdido entre as mãos grossas do moço, a multidão ao redor, as tinas de peixe fresco e o edifício da Assembléia que se recorta lá longe no outro lado da baía, num cenário quase surrealista...
Nhôs ka ta atcha ma ´n stá drêtu?
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("Praia" - Foto de PD)
2 comentários:
Lido! No comment's!
A vida a palpitar em voz activa, sem lamúrias. Di más!
Obrigado pelo apontamento.
Não percas esse teu 'Note-Book'! Vai-o abrindo tb para nós.
Numa palavra? Luminoso!
ZC
Valeu, ZC.
Pela visita e pela palavra.
Um abraço,
Paulino
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