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quarta-feira, 9 de abril de 2008

Duas regrinhas para o Dr. Gilles Filatreaut (TACV)

Exmo. Sr. Dr. Gilles,
Director Geral da TACV.


Escrevo-lhe estas duas regrinhas directamente de tchon de Lisboa onde me encontro, tendo chegado aqui no voo VR606 do passado dia 07/04/08.

O que me levou a tomar a atrevida decisão de lhe endereçar estas linhas, Dr. Gilito, é precisamente o atraso de 3h15mn que tivemos de gramar ali na sala de espera do aeroporto da Praia, ouvindo de tempos em tempos a voz quase robótica do altifalante a sussurrar no nosso ouvido (assim, como uma carícia, caramba!) “informamos aos passageiros com destino a Lisboa que o voo 606 encontra-se atrasado (grande novidade!) por motivos operacionais”.

E aqui, entre duas chávenas de café e uma tentativa de aproveitar para tirar um djonga (posto que tinha levantado às 04h20mn da manhã para poder cumprir o horário que me tinha sido exigido para apresentação no aeroporto), comecei a cogitar algumas sugestões atrevidas para V. Excia., para aliviar o calvário tão recorrente de filhos de parida como eu que têm a desventura de comprarem o “prazer de viajar bem”, nesta companhia que V. Excia. tão doutamente vem dirigindo:

1. Oferecer a cada passageiro, no acto de compra da passagem, um baralho de cartas: assim o pobre coitado terá com que se entreter nas salas de espera durante os atrasos;

2. Investir em relógios despertadores para o pessoal tripulante, garantindo que os mesmos tenham um volume de toque com os decibéis necessários para lhes tirar da gostosa caminha: em caso de dificuldades financeiras para a compra dos despertadores, ofereço-me para organizar uma campanha de doação ou mesmo prestar gratuitamente uma consultoria especializada para determinar uma taxa a cobrar de cada passageiro nas passagens – a “Taxa de Despertador”;

3. Diligenciar junto da ASA para que autorize a Nanda lá de Órgãos Pequeno a montar a ali na sala de espera a sua barraquinha de cachupa guizada, carne de porco assado, linguiça e torresma: que o pãozinho que nos serviram depois de ultrapassadas as duas horas de atraso, estava tão dormido que quase se lhe podia ver as ramelas;

4. Discutir igualmente com a ASA a criação de um espaço privê dentro da sala de espera, para maiores de 18 anos, devendo de imediato providenciar um programa completo de shows eróticos e live sex para ajudar os moços xatiadu si a aliviarem o stress;

5. Organizar cursos intensivos de natação para os passageiros de Frequent Flyer Class: assim, em caso de atraso, e para o pobre coitado que não grama lá muito andar de navio, pode ir sempre a nado nas suas deslocações inter-ilhas; até já estou a ver o meu amigo Djosa em vigorosas braçadas a dobrar a Ponta Moreia rumo a São Vicente, arrastando a sua mala de viagem e a bolsa de plástico com os dois quilos de linguiça que leva de encomenda…

6. Oferecer, em parceria com a Federação Caboverdeana de Artes Marciais, um curso de karaté para os tripulantes: neste voo que originou estas minhas humildes sugestões, Dr. Gilito, a encarregada do pessoal de cabine quase me foi aos tabefes só porque, num acto de protesto e cidadania bem humorada e civilizada, organizei uma sessão de aplausos logo assim que a equipa de tripulantes entrou no salão de espera, 3hs depois da hora constante no meu bilhete de passagem. E dizendo-me, publicamente em alto e bom som, que a continuarmos as palmas, ainda nos deixariam no chão porque elas tinham sido chamadas para substituir uma outra equipa ou coisa assim. Entendi pelas suas palavras o tamanho do favor que a Sra. estava a prestar-nos, e quase que fui às lágrimas, tão emocionado que fiquei com a sua filantrópica decisão, Dr. Gilito! Por isso, karaté para o pessoal, Sr. Director! Não vá um passageiro menos civilizado e menos agradecido estragar-lhes a maquiagem um desses dias perante reacções tão sublimes a uma reclamação justa e educada de um Cliente!

Devo, entretanto, reconhecer o profissionalismo e o respeito aos Clientes demonstrado pelo Comandante Augusto que, já dentro do avião, humildemente pediu-nos desculpas em nome da tripulação e explicou-nos tintim por tintim o que se tinha passado: que desde as 5hs estavam a postos à espera de um elemento da tripulação que estava de folgas. Fiquei tão grato pela explicação que nem ousei imaginar como é que se vem fazendo o planeamento operacional na TACV, Dr. Gilito.

Por último, Sr. Director, devo dizer-lhe que estas regrinhas não foram de modo algum motivadas pela briga de comadres que temos acompanhado pelos jornais, entre a sua direcção e o seu pessoal. Uma vez que as únicas informações que tenho são as que leio nos jornais, não me compete, neste momento, fazer juízos de valor ou tomar partido. Quis apenas, enquanto CLIENTE que assinou um contrato de compra e venda de um serviço com a TACV (pagando caro por isso…), reflectir sobre a forma como nós, pobres coitados e filhos-de-parida-quase-sem-alternativas, temos vindo a “apanhar por tabela” com toda esta confusão. E quando houver alternativas, ahn, Dr. Gilito?


Lisboa, 09 de Abril de 2008


Paulino Dias
Frequent Flyer da TACV, cartão VRA77K2

(com dois dedos cruzados atrás das costas, em figa conhóta para espantar o azar de um outro atraso de 3hs no meu voo de regresso dia 11…)

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4 comentários:

vavalandia disse...

ôh moce!
Votos de boa estadia e um óptimo "voo" de regresso.
Essa foi boa!
Abraço

Unknown disse...

Brilhante Paulino. Vou plagiar algumas das sugestões e fazer uma corrente «como-passar-o-tempo-que-os-TACV-nos-obriga-a-gastar-nos-aeroportos»! Amanhá, no Margoso! Abraço e boa viagem de regresso...

Anónimo disse...

lol ...jam da na pedra!!
esse ka é um carta é um cartilha, mas acho que recebendo ess carta sr gilles devia destribuil pa tudo trabalhador de tacv(kés k são) .
têm cozas k um sociedade ja ka ^podé estôde ta admiti , esse mania de atraso li atraso là, de hora de criolo não sei k mais , é k dà da nôs na pedra, pois cinco minutin li ,5 minutin la , e acolà , konde bô sômas é 15, e assim por diante, mas é sempre assim, é um abuso mas k penso eu, ka foi intruduzido pa esse gilles mas jal têm anos, e pesssoal agora tâ numa de tchà caga...no final nôs é k ta borrà(passe a doce espressão).

Djoy Amado disse...

Delicioso este texto, Paulino. Acho que s� nos resta ironizar, a ver se muda alguma coisa...