das noites longas de Assomada
feitas Far-West
e dos rios de fodjadas
sob os nossos pés ritmando
de crianças
em loucas correrias verdes?
Todos nós éramos índios
negros brancos e mulatos
todos éramos peles-vermelhas
de escalpes crioulos
Lembras-te, Tchikosa
das noites longas de Assomada
das varandas debruçadas sobre Assomada
e dos pardieiros feitos castelos
Riba kontra Baxu Kutelo kontra Somada
nas noites longas de Assomada?
Todos nós éramos
Nhagar de coração
plenos de Natal
plenos de Assomada"
(...)
in Assomada Nocturna, de José Luís Hopfer Almada
O meu primeiro “contacto” com Assomada deu-se através deste poema, que li tinha aí uns 17 anos. Encantou-me logo a então vila, os kutelos e achadas do poema, que me lembravam os montes e ribeiras da minha ilha, as estórias e aventuras de menino que então adivinhava saltando dos versos do JL directamente para as hortas de cana e bananeira de Nhá Júlia d’Ana lá no meu Fajã Domingas Bentas, via-me ali também no poema mais o Gilson, o Cai de Mari d’Joana, o César e o Jon Bunita também nós nos nossos pardieiros feito castelos de Trouxe as Cartas, Cavaleiro Inglês, Papagaio Louro...
Meu segundo contacto, nove anos depois, foi quando fui tansferido para Santiago em 2002. Tive então a felicidade de cruzar o concelho de Santa Catarina de lés a lés, e (re)visitar todos os lugares de que me falava o poema acima citado. Até pareceu-me que tinha ali o JL a mostrar-me cada um dos lugares da sua infância no Assomada Nocturna!
O terceiro “contacto” a registar, foi sem dúvida neste último domingo. Porque de um outro prisma. Num outro poema, que agora se construiu minuto a minuto, metro a metro, enquanto avançávamos de Pico Leão, galgávamos a rocha íngreme até Achada Mula, cruzávamos este planalto absorvendo em golpadas a brisa suave que descia pela encosta de Pico d’Antónia. A agora cidade de Assomada que se estende de repente a nossos pés, acariciando-nos a alma e o olhar ali do miradouro, depois de cerca de 2 horas de caminhada, o ventinho quase frio contornando o cutelo, a água gelada que nos lava o rosto e a alma na descida de uma hora, as canas que se abrem em flôr de novembro como as da minha ribeira lá longe, a gostosa feijoada da Cozinha da Avó na Assomada em festa para nos saciar a fome, o cansaço e a busca pelo Cabo Verde profundo...
Deixo-vos um cheirinho para completar a descrição. Obrigado, Célia, por mais essa descoberta. Obrigado, Jaiminho, pelas informações. Obrigado a todos os colegas do “Caminheiros Sem Fronteiras”! Até a edição de Dezembro para mais um percurso na ilha...
(Fotos de Paulino Dias)
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