“Chamo-me Paulino Dias. Nasci em Fajã Domingas Bentas, Ribeira da torre, um dos belos vales da ilha de Santo Antão, no seio de uma família bem estruturada, mas humilde. Meu pai era Pedreiro nas FAIMO, minha mãe, analfabeta, sempre teve como única (e fundamental) tarefa, cuidar da casa e dos meninos.
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Estudei o então Ciclo Primário nas escolas de Marrador e de Fajã Domingas Bentas, e em 1986 concluía com êxito o 2º Ano do Ciclo Preparatório (actual 6ª Classe), o nível máximo a que se poderia chegar na altura em Santo Antão, dada a inexistência de Liceus na ilha. Excelente aluno, vi-me contudo numa encruzilhada: ou ia para São Vicente continuar os estudos, ou teria que parar ali no meu 2º Ano e seguir as pisadas do meu pai no lombo da enxada, nesta secular luta dos homens da ilha que teimam em arrancar da terra pedaços de pão feito milagre. Mas estudar em São Vicente custava dinheiro...
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Foi então que outras pessoas fizeram ESCOLHAS em relação a mim, tomaram decisões certas, na hora certa, escolheram estender-me as mãos, cada um à sua maneira, escolhas essas que mudariam radicalmente o rumo da minha vida – para melhor – a partir de então. Desde Nhá Adélia lá na Rua 9 em Ribeira Bote, em cuja casa ficara hospedado, passando pelos meus irmãos mais velhos, o Tio Frank, a Professora Ricardina e tantos outros, até o ICASE e o Governo, de quem recebi bolsas de estudo primeiro em São Vicente, depois para a formação superior no Brasil.
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Hoje, com 31 anos de idade, tenho pendurado na minha sala um diploma de Licenciatura e outro de Pós-Graduação, sigo uma carreira profissional sólida numa das maiores empresas do país (Administrador da IFH), sou Professor de Ensino Superior. Meu horizonte agora é diferente, muito maior e mais vasto do que a vida teria me reservado se eu tivesse ficado ali parado apenas com o meu certificado de ciclo preparatório, sem conseguir realizar o meu sonho de menino que era (e continua a ser) aprender, aprender e aprender. Hoje me considero imensamente feliz, porque vou conseguindo realizar aquele meu sonho.
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Não tenho dúvidas de que grande parte desta mudança de perspectivas deveu-se às pessoas que ESCOLHERAM ajudar-me, no momento certo. Às pessoas que tomaram a decisão de estender as mãos ao meu sonho de menino, acariciando-o e alimentando-o com ternura esses anos todos. Não os posso agradecer, porque por mais que lhes dirigissem palavras bonitas ou gestos de nobreza, nunca seriam suficientes para retribuir a mudança que operaram no meu horizonte de menino da ilha. Não senhor, nenhuma palavra seria suficiente...
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Não os posso agradecer. Mas posso lhes copiar o gesto. Posso – também eu! – FAZER ESCOLHAS, tomar decisões, estender as mãos aos sonhos de outros meninos como eu fui outrora. Posso ESCOLHER pagar uma rodada de cerveja à malta na Sexta-feira à noite para comprar seu respeito e admiração, ou posso oferecer um almoço àquela senhora idosa que vem todos os Sábados de manhã arrastar pelas ruas do Plateau seu corpo carcomido de velhice e miséria. Posso ESCOLHER comprar mais uma camisa de marca para enriquecer meu guarda-roupa e minha vaidade ou posso oferecer aquela t-shirt de Homem-Aranha ao puto que me estende as mãos pedindo alguns tostões ali na porta do escritório, só para lhe ver o sorriso. Posso ESCOLHER olhar para o lado e fingir que tudo ao redor é um mar de rosas, ou assumir que podemos ajudar – mesmo com pouco – a construir um mundo melhor à nossa volta.
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A vida é feita de escolhas. E do fruto que colhemos das escolhas que fazemos. Eu fiz uma escolha, para copiar o gesto às tais pessoas que fizeram as escolhas certas na hora certa, mudando para melhor a minha vida. Escolhi também dar a minha modesta contribuição para que os sonhos de outros meninos possam se realizar, para que outros horizontes possam se abrir para eles, para que também amanhã possam pendurar diplomas pelas paredes e quem sabe sejam chamados de Sr. Doutor. Desde Agosto de 2006, sou Padrinho do Anderson, um puto de 13 anos da Aldeia SOS de Ribeirão Chiqueiro. Não me custa nada. É apenas um pequeno gesto. E a satisfação de saber que fiz a ESCOLHA CORRECTA.
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Faça também a sua ESCOLHA. Ajude a concretizar sonhos. Ajude a mudar vidas. Ajude a abrir outros horizontes. Claro que podes ESCOLHER deixar para amanhã aquele telefonema à Aldeia SOS para apadrinhar uma criança, podes deixar para a Segunda-feira da semana que vem quando terás mais tempo para tratar disso, podes ESCOLHER esperar até que o miúdo da porta do escritório se afogue na droga e na bebida, e a velha esfarrapada das ruas do Plateau exale o último suspiro (“coitada, era uma velhinha tão simpática...”). A ESCOLHA é sua.
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Faça a ESCOLHA CORRECTA. Agora.
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Paulino Dias,
Padrinho da Aldeia Infantil SOS de Ribeirão Chiqueiro.”
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P.S. – para contactar a Aldeia SOS: +238 2647379
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Estudei o então Ciclo Primário nas escolas de Marrador e de Fajã Domingas Bentas, e em 1986 concluía com êxito o 2º Ano do Ciclo Preparatório (actual 6ª Classe), o nível máximo a que se poderia chegar na altura em Santo Antão, dada a inexistência de Liceus na ilha. Excelente aluno, vi-me contudo numa encruzilhada: ou ia para São Vicente continuar os estudos, ou teria que parar ali no meu 2º Ano e seguir as pisadas do meu pai no lombo da enxada, nesta secular luta dos homens da ilha que teimam em arrancar da terra pedaços de pão feito milagre. Mas estudar em São Vicente custava dinheiro...
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Foi então que outras pessoas fizeram ESCOLHAS em relação a mim, tomaram decisões certas, na hora certa, escolheram estender-me as mãos, cada um à sua maneira, escolhas essas que mudariam radicalmente o rumo da minha vida – para melhor – a partir de então. Desde Nhá Adélia lá na Rua 9 em Ribeira Bote, em cuja casa ficara hospedado, passando pelos meus irmãos mais velhos, o Tio Frank, a Professora Ricardina e tantos outros, até o ICASE e o Governo, de quem recebi bolsas de estudo primeiro em São Vicente, depois para a formação superior no Brasil.
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Hoje, com 31 anos de idade, tenho pendurado na minha sala um diploma de Licenciatura e outro de Pós-Graduação, sigo uma carreira profissional sólida numa das maiores empresas do país (Administrador da IFH), sou Professor de Ensino Superior. Meu horizonte agora é diferente, muito maior e mais vasto do que a vida teria me reservado se eu tivesse ficado ali parado apenas com o meu certificado de ciclo preparatório, sem conseguir realizar o meu sonho de menino que era (e continua a ser) aprender, aprender e aprender. Hoje me considero imensamente feliz, porque vou conseguindo realizar aquele meu sonho.
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Não tenho dúvidas de que grande parte desta mudança de perspectivas deveu-se às pessoas que ESCOLHERAM ajudar-me, no momento certo. Às pessoas que tomaram a decisão de estender as mãos ao meu sonho de menino, acariciando-o e alimentando-o com ternura esses anos todos. Não os posso agradecer, porque por mais que lhes dirigissem palavras bonitas ou gestos de nobreza, nunca seriam suficientes para retribuir a mudança que operaram no meu horizonte de menino da ilha. Não senhor, nenhuma palavra seria suficiente...
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Não os posso agradecer. Mas posso lhes copiar o gesto. Posso – também eu! – FAZER ESCOLHAS, tomar decisões, estender as mãos aos sonhos de outros meninos como eu fui outrora. Posso ESCOLHER pagar uma rodada de cerveja à malta na Sexta-feira à noite para comprar seu respeito e admiração, ou posso oferecer um almoço àquela senhora idosa que vem todos os Sábados de manhã arrastar pelas ruas do Plateau seu corpo carcomido de velhice e miséria. Posso ESCOLHER comprar mais uma camisa de marca para enriquecer meu guarda-roupa e minha vaidade ou posso oferecer aquela t-shirt de Homem-Aranha ao puto que me estende as mãos pedindo alguns tostões ali na porta do escritório, só para lhe ver o sorriso. Posso ESCOLHER olhar para o lado e fingir que tudo ao redor é um mar de rosas, ou assumir que podemos ajudar – mesmo com pouco – a construir um mundo melhor à nossa volta.
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A vida é feita de escolhas. E do fruto que colhemos das escolhas que fazemos. Eu fiz uma escolha, para copiar o gesto às tais pessoas que fizeram as escolhas certas na hora certa, mudando para melhor a minha vida. Escolhi também dar a minha modesta contribuição para que os sonhos de outros meninos possam se realizar, para que outros horizontes possam se abrir para eles, para que também amanhã possam pendurar diplomas pelas paredes e quem sabe sejam chamados de Sr. Doutor. Desde Agosto de 2006, sou Padrinho do Anderson, um puto de 13 anos da Aldeia SOS de Ribeirão Chiqueiro. Não me custa nada. É apenas um pequeno gesto. E a satisfação de saber que fiz a ESCOLHA CORRECTA.
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Faça também a sua ESCOLHA. Ajude a concretizar sonhos. Ajude a mudar vidas. Ajude a abrir outros horizontes. Claro que podes ESCOLHER deixar para amanhã aquele telefonema à Aldeia SOS para apadrinhar uma criança, podes deixar para a Segunda-feira da semana que vem quando terás mais tempo para tratar disso, podes ESCOLHER esperar até que o miúdo da porta do escritório se afogue na droga e na bebida, e a velha esfarrapada das ruas do Plateau exale o último suspiro (“coitada, era uma velhinha tão simpática...”). A ESCOLHA é sua.
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Faça a ESCOLHA CORRECTA. Agora.
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Paulino Dias,
Padrinho da Aldeia Infantil SOS de Ribeirão Chiqueiro.”
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P.S. – para contactar a Aldeia SOS: +238 2647379
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2 comentários:
Paulino, não resisitimos:
http://www.caboindex.com/blog/depoimento-do-paulino-dias/
Infelizmente so leio este post agora. Credito para o DJAROZ, pois foi atraves do post dele que cheguei aqui.
Paulino, duas palavrinhas: BOAS ESCOLHAS.Este post, apesar de ser pessoal, relata a realidade do nosso pais e demonstra uma humanidade que todo o caboverdiano deveria ter dentro dele. OBRIGADO pela partilha.
Ps-Desculpe-me pela escrita . O teclado esta configurado em ingles, lol.
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