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quinta-feira, 1 de maio de 2008

Dia do Trabalhador: um post sem palavras

Dêem-me palavras! Dêem-me palavras para estas rugas e este olhar. Palavras, porra!


(“Nhá Mari Ricarda lá de Fajã Domingas Bentas” – foto de Paulino Dias)

6 comentários:

Alex disse...

Caro amigo.
Aprendi com a vida que, por vezes, a melhor forma de dizer, é ainda o silêncio.
É pois com uma estranha sensação de dupla blasfémia, que ouso aceitar o teu desafio, e contrariar aquela regra.
Não sei resistir às emoções. Responder a este teu comovido, e emocionante, Post, foi sentir-me a responder a esse outro desafio, que um certo poeta, um certo dia, num certo poema, lapidou: "virás por uma palavra?".
Eis-me! Ei-la!

Para o Paulino e Nha Mari Ricarda

"A música calada e a solidão sonora" *

Todo o rosto é um mapa solitário onde um mundo escondido se cala, e outro, revelado se confessa. Nem sempre é pela porta de um sorriso, ou pelas frestas de um olhar, que um rosto acontece. E no entanto, lábios e olhos são lugares de colheita, objectos raros, oráculos de silêncio na acidentada geografia de afectos que cada rosto é.
Há rostos assim. Lugares de peregrinação. Altos lugares que exalam, para lá da espessura da pele, para lá do pasmo que as habita, essa aura de saber, e a tranquila-idade que o alambique do tempo destilou sob a máscara dos dias. Que outro nome lhes chamar, que não seja, por sua graça e formosura, as estações da ternura.
Contemplo nestas rugas o que a memória serenada balbucia. Contemplo o apaziguado fogo que neste olhar mora, como brasa derramada no poente, lugar onde a noite se alumia, e a paz em repouso se resguarda.
Todo o rosto é máscara onde o tempo se recolhe. Todo o rosto é um nó de luz a desfazer-se sem mistério, como na nascente a água pura mana em cristalino canto.
Todo o rosto é “a música calada a solidão sonora”, íngreme lugar onde o tempo assoma. E que são afinal os rostos, senão a máscara que no rosto do tempo, é o seu rosto transparente?
E eis então um rosto. Notável rosto, este que no rosto do tempo tomou nome e lugar, seja Fajã seu horto e sua lavra, este que às águas lentas e às cinzas antigas se celebra. Bem-aventurado sejas.
Este rosto que nos é dado, que é casa, e que respira à luz do meio-dia, resplandece, qual divina criatura.

Alex
08/05/01

* São João da Cruz, in Obras Completas, ‘Cântico Espiritual’ 14

Paulino Dias disse...

Alex,
Deixaste-me ainda mais sem palavras... Belíssimo texto! Nhá Mari Ricarda agradece-te.

Um abraço, thanks pela visita.

Paulino

RPSE disse...

"a simplicidade do sorriso, a sabedoria despretenciosa do olhar..."
palavras? palavras que caibam? palavras ilimitadas? palavras a todo o custo? oh, mas em todo o seu tempo, ela não urge essa premência...
as palavras são simples, impregnadas do olhar bondoso, cativas do sorriso tímido, enchidas dela nas rugas acolhedoras que não condenam o caminho, o tempo, as "não-aságuas". as palavras que ela conquista, sem saber, na sua vivência, serenidade, paciência, as palavras que ela conquista na sua inocência até...

bom dia, Paulinho :)

Paulino Dias disse...

Alô, Viviane,

Thanks pela visita. E pela palavra...

Abraço,
Paulino

Anónimo disse...

Os olhos sao na verdade as janelas da alma.
Com um sorriso desses quem ve rugas ?

Gosto do teu blog e vou voltar mais vezes.

Sara

Paulino Dias disse...

Thanks, Sara!
Belo trocadilho...

Abracos, obrigado pela visita!

Paulino