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terça-feira, 13 de maio de 2008

150 anos da Praia: Crónicas da cidade 3

E porque também tu és cidade – alma, riso, olhar, cabelos crespos -, escrevo-te, minha amiga Dadá. Sem o melado dos discursos que nesses dias me entopem os ouvidos nos altifalantes de campanha nas esquinas de todas as ruas. Sem que o calendário marque necessariamente o Dia das Mães, o Natal, ou sequer a data do teu aniversário (que, confesso, nem sei…). Basta-me as tuas rugas, Dadá. As tuas rugas, o tempo, o abraço badiu que me cerca as costelas e o poema inesperado.

És cidade, minha piquena Dadá. Mesmo que hoje ela não seja mais que uma ténue lembrança no horizonte que contemplas da tua casa em Agua Gato, São Domingos, és cidade, minha amiga. A cidade outrora calcorreada, com sacos, balaios, aventais – sacos de fijom, balaios de milho verde, aventais de poemas e do batuque em rebuliço no teu ventre. A cidade que te levou àquela festa na Cidade Velha em que bô pilá funaná ti manche, a cidade que teus olhos abarcavam para lá de Rubom Chiqueiro entre o peso do balaio e os raios de Sol que despontavam já no horizonte.


A cidade, minha amiga Dadá… A tua cidade, o teu ilhéu, as tuas ruas seculares onde respiram ainda as naus de achamento, o teu Platô com o mercado a tiracolo onde deixavas a verdura e pedaços da tua juventude.


Hoje, minha amiga Dadá, trago-te a cidade num abraço longe, e nos versos de um poema…

.

(“Dadá de Agua Gato” – foto de Paulino Dias)

5 comentários:

Margarida disse...

A melhor maneira de comentar este post é não comentando! Está aqui tudo! Tanto sentimento, tantas coisas ditas nas linhas e nas entrelinhas.
Daqueles que lemos e relemos vezes sem conta... e ficamos sem palavras nossas...

Valdevino Bronze disse...

Que mulher linda . . . a mulher, a mãe caboverdiana . . . o nosso orgulho!

Anónimo disse...

Oi Paul....,
já tinha saudades das tuas crónicas, que como sempre, são um bálsamo para almas sedentes de coisas boas.
As duas senhoras a quem as dedicaste, Dadá e nhá Ricarda, são duas felizardas. Continua alimentando as nossas almas, pois o blogguistas agradecem!Abraço

Alex disse...

A foto é magnífica (parabéns!), e o rosto de Nha Dadá é de uma espessura que pede um comentário à altura, que ainda não tenho. Mas foto e rosto reclamam por esse desafio.
Assim sendo, limito-me a concordar (provisoriamente) com a Margarida.
Ab
ZCunha

Anónimo disse...

Ami é DNB, nha avó é dims propi, ku 91 anu, mas sima el ka ten. bjs