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sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Entre o tempo e a liberdade

Roça-me a brisa suave no calcanhar nesta manhã calma de Janeiro. Suspende-me com ternura do chão crã da ilha e dos ponteiros de relógio que me prendem ao tempo e à angústia de ontem. Flutuo, quase, na imensidão do poema que se aloja de repente entre meu orgulho de macho e a luz verde-azul que me espera do outro lado da ponte. A ponte, sim senhor. A ponte e a liberdade de fluir na leveza da alma. A suprema liberdade de perdoar. Porque só agora percebo, chiça? Há sempre algures uma ponte que nos liga à genese do tal amor ao próximo.

Liberto-me incessantemente às doze badaladas da meia-noite, para acorrentar-me outra vez - sempre sempre sempre! - ao dobrar todas as manhãs o portão da minha casa. Observa-me curioso o miúdo da janela do carro que por mim passa. Mede-me os passos o moço polícia de plantão na esquina. Estupra-me os olhos a manchete de um jornal amarrotado no caixote de lixo com o último atentado nas ruas de Bagdad. O tic tac do relógio sobre a minha secretária. O tempo. As grades carcomidas de tempo na velha prisão do ilhéu de Santa Maria. O tempo que morre com ternura no belo sorriso da moça no café da rua defronte.


O tempo também em minhas mãos, como a tal liberdade verde-azul do outro lado da ponte...




(Foto de Paulino Dias - Ilhéu de Santa Maria)

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