Sabes, minha crioula, é tão bonito ver o dia amanhecer no topo do planalto... Com o vale - quase desconhecido - serpenteando-se lânguidamente do umbigo de Santiago ao azul do mar que nos espera em João Gago. Parece até que curvas do teu corpo entre os lençóis da ilha. É tão bom caminhar pelos recantos destes vales, à descoberta da poesia e da tal leveza dos dias... É tão bonito o verde, a flôr do canavial & e o inhame, a água por entre as pedras e a suave ondulação do dondagu ao redor do agrião, as mãos rudes do moço que nos abre o côco ou que nos oferece um grogue... Sabe tão bem sentir a água fria do tanque envolver-nos a epiderme urbana nesta manhã de Domingo enquanto na encosta macacos fazem poses ao disparo das máquinas... Ouvir a gargalhada do Chico, as estórias da Paulinha, o humor do Draiss, a música do Afonso... Degustar uma cerveja gelada ali no bar de Ribeira da Barca antes de devolver à cidade os corpos exaustos e satisfeitos... Coisas simples destas nossas ilhas, minha crioula. Coisas simples... tão pertos... e tão desconhecidos...!
A próxima caminhada será no dia 12, para anteceder o Natal. Entre a Ribeira de Flamengos e a (Cidade de) Calheta. Haverá festa de Caminheiros, avisou-nos desde já Tóchico. E troca de prendas. E música. E poesia, como é evidente. Irás comigo de volta à leveza dos dias, óh crioula?
(Caminhada pelo vale de Tabugal, Santa Catarina - fotos de PD)
.