As palavras. Ainda as palavras. Melhor: a ausência delas. Nem é letargia, sequer posso lamentar falta de tempo por esses dias, menos ainda motivos e rostos por quem e para quem se escreve. Nada disso. A ausência apenas. A folha vazia - outrora angústia no ecrã em branco, hoje uma calma contemplação do deixar andar. Deixar-se estar na cadência agora lenta das horas. Sem pressas. Tranquilamente. Sossegadamente.
Não as procuro, as palavras. Em vez disso, contemplo-as. Em silêncio. Enquanto na rua sob a minha janela passeiam sombras. Reais, essas sombras que por mim passam, caramba! Dá até para lhes sentir o gesto, a textura, o mundo à cabeça e as contas por pagar. E - vejam só! - arrastam pelos pés os corpos erectos como quem carrega um fardo! Triste sina a dessas sombras que têm que carregar o Homem pelas ruas da cidade... Enquanto este basofia pelas esquinas sua herança de Adão e Eva!
E agora, porra!, esta angústia de não saber ainda onde me deixou a minha sombra...
("Sombras pela rua" - foto de PD, algures sob um prédio em Palmarejo)
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1 comentário:
Paulino,
Interessante, as sombras são todas iguais. Não são brancas, amarelas ou vermelhas. Somos uma única cor. O que diferencia uma sombra da outra é o tamanho e os objectos que cada um carrega, grandeza do espírito.
A humanidade precisa de alguma maneira encontrar a sua sombra,
Venâncio
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