Escrevo hoje à luz de velas. E por conta das mentes que nos inventaram a bateria de computador, felizmente. Estou em crer até que estes se inspiraram numa tal empresa de electricidade de um tal país chamado Cabo Verde. Honra e glória a esses moços, portanto!
À luz de velas, dizia. E de madrugada. Já não suporto o calor infernal. Do tecto, a ventoínha - parada - me encara até com um quê de pena. Escancaro a janela para que me entre um tintinho assim de vento. Em vez disso, fumo do barulhento gerador do prédio defronte. Chiça! Entre o calor, a não-luz, o fumo e o barulho, decido escrever para exorcizar o nome de Pai-Filho-Espírito Santo-Amén. Que, neste preciso momento, dá-me ganas de praticar o 4º pecado até a exaustão...
São com certeza românticos os moços da Electra: têm um prazer quase carnal para com a vela. Jantar à luz de velas. Escrever (poemas e outras merdas) à luz de velas. Ler à luz de velas. Cagar à luz de velas. Dormir à luz de velas. Acordar à luz de velas. F... à luz de velas. Porra!, por este andar já nem vou pedir ao meu velho que me mande como encomenda um gruguim de Sintanton para secar o suor neste Verão. Antes velas. Muitas velas. Caixas de velas. De purgueira, que está na moda. É isso. Arranquem as canas e plantem purgueira. Encham-me as encostas da ilha toda de Jatropha Curcas. Diz-me o instinto que se ganha dinheiro com certeza nos próximos meses vendendo velas...
Ah!, tivesse eu o faro de um Napumoceno da Silva Araújo que também importaria uns 10 contentores de leques e abanadores para fazer dinheiro neste Verão. Da China, para ser mais barato e democratizar o ventinho fresco. Nada de elitismo neste negócio. Afinal, "tud cristõn, tud cimbron, tem direito a se gota d´ar...". Pressinto coisas num futuro próximo. Cidade sem luz, calor infernal, matraca de geradores, suor escorrendo, fome de vento, oli lééééque!, ventoíiiiinha!, bonito e "balaaaaato", Pressinto coisas...
Entretanto abro o jornal por ler, da semana passada. Nos classificados um anúncio: "Caro consumidor, mantenha as suas contas de luz em dia para evitar cortes de luz e dissabores (...)". Assim, belo como um poema. Enternecedor, diria até. Emocionante.
E eu, porra!, que hoje não tenho luz, que anúncio devo colocar nos jornais para a Electra??! Aceito sugestões...
("Luz & Forma" - foto de PD)
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3 comentários:
Hehehe...
Uma critica soberba!
O teu sentido de humor é realmente apuradíssimo.
V.
Enquanto o mundo inteiro se une procurando soluções para otimização do consumo de energia e redução das necessidades de investimentos em geração, vemos a Electra completamente alheia aos seus próprios problemas, como as perdas técnicas e comerciais exageradas e a multiplicação aleatória de pequenos geradores, cuja relação custo-beneficio é até uma piada. Quando teremos administradores conhecedores do negócio na Electra?
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