Same mistake, disseste-me, com a tua mão pousada delicadamente no meu peito. Como na música do James Blunt que ainda parecia ecoar pelo espaço. O quarto cheirava a sexo. No chão o lençol amarrotado contorcia-se em figuras que me pareceram vales e montes. Vales e montes seguindo a curvatura do teu corpo. Pingos de suor escorriam ainda da minha fronte. Teu peito arfava levemente, os mamilos entumescidos acompanhando o movimento da tua respiração. Same mistake, repetiste num sussurro. E na tua voz quis adivinhar um tremor de pecado que tornava o ambiente ainda mais único. Clandestino. Deliciosamente íntimo.
São 14:28 e no café de um aeroporto algures lembro-me então do teu rosto naquele preciso instante que precede o adeus. Outra vez. O olhar distante que fitava um ponto qualquer na parede, na ressaca de um momento que – agora tenho certeza! – desejaria eterno. Outra vez, porra! A mesma saudade, o mesmo instinto animal de te ligar às onze da noite para te dizer desta saudade, o mesmo quarto de hotel na periferia, o mesmo arrancar de roupas em silêncio para que no chão atapetado se formem ilhas. De vales, de montes e também de pecados. Os mesmos gemidos, os mesmos gritos. E depois, há sempre a mesma angústia e o mesmo olhar num ponto qualquer da parede, na ressaca do tal momento que desejaria eterno.
Não há nenhum mistake, sabes disso. Apenas ficamos presos numa roda do tempo em que a saudade, o orgasmo a culpa e o adeus se repetem indefinidamente. Como se fosse uma maldição. Roteiro de um jogo que ultrapassa, se calhar, a nossa capacidade de compreensão. A vida, caramba!, às vezes tem dessas coisas, sabias?
(Foto de Nana Sousa Dias)