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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Ultimo post

Tinha que terminar com poesia, este meu cantinho intimista, claro...



TESTAMENTO

(Da antologia “Caminho di bai”)


Meu último poema

será um panfleto.


Dou-vos minha palavra!


Depois disso

serei apenas osso

……………..ou fosso

……………………..ao redor

os passos cronometrados

pelo bater louco

do meu coração em frangalhos.



Texto: Paulino Dias
Foto: Helder Paz Monteiro



**THE END **

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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

“Crónica de um adeus anunciado…”

Car@s amig@s,


Escrevo estas duas regrinhas para vos dizer que encerrarei as postagens no “Blog do Paulino” a partir da próxima Segunda-feira dia 11/08. Neste dia, escreverei aqui o meu último post, em jeito de despedida deste meu cantinho intimista. O blog continuará no entanto activado, pelo menos até descobrir uma forma de gravar todos os textos (salvo poucas excepções, quase todos foram escritos directamente no blog, sem que eu tivesse tido o cuidado de ao menos salvar um registo no meu computador… alguém aqui dá uma dica, por favor?).


Alguns irão certamente perguntar porquê. O que é que terá dado na telha daquele moço de Santo Antão, hein? Encerro o blog porque sem dramas assumo que para mim é chegado o fim de um ciclo, no que diz respeito ao exercício da escrita. A vida é feita de ciclos, de etapas que se substituem e às quais nós naturalmente devemos ajustar os nossos passos, com um sentido crítico que nos permite reinventarmo-nos continuamente para não perder a humildade e a poesia da descoberta de outros rumos. Encerro este ciclo com tranquilidade, à semelhança do que fizera antes no fim de outras etapas, como quando decidi deixar de participar no belíssimo programa “Música & Poesia” da RCV ainda no início dos anos 90 do século passado, ou quando terminei a minha coluna “Gentes das Ilhas” no ASemana Online.


Desde que escrevi aqui o primeiro post, ainda meio a medo, nos idos de Novembro de 2006 (caramba!, como o tempo voa…), e ao longo de mais de 130 posts, o “Blog do Paulino” tem sido para mim um espaço de escape e de partilha. Sobretudo partilha. Partilhei convosco na intimidade deste cantinho pequenas alegrias, coisas boas da vida, imagens que me marcaram, sons e cheiros de caminhadas pela ilha de Santiago, alguns momentos menos bons de saudade, tristeza e angústia – às vezes até, melancolia -, insonias, desabafos desaforados, chorei por vezes ao escrever o texto (está bem, confesso!, rs), dei também algumas gargalhadas, senti raiva, que outras vezes manifestei através de uma subtil ironia, tivemos também alguns debates muito ricos e interessantes, e outros devidamente abortados por absoluta falta de respeito ao outro e nobreza intelectual. Ah!, também amei - claro! – e mandei recados de ternura e de saudade. E entre a cidade e os recantos mais intimos da alma, fui de permeio fazendo publicidade da minha ilha Santo Antao e das gentes do meu cutelo Faja Domingas Bentas...


Muitas vezes, esta partilha se revestiu de alguma delicadeza, por navegar numa linha ténue entre o íntimo/privado e o público. Desde o início sempre tive a noção clara deste risco e assumi-o com tranquilidade, com a plena consciência do que representava em termos de exposição pública do que me ia no mais fundo da alma.


Mas o que foi para mim muito gratificante foram as relações que se foram construindo por causa ou através deste blog. Tive a felicidade de me “cruzar” virtualmente com pessoas extraordinárias e com quem aprendi muito (e vou continuar a aprender, claro!, porque continuarei a visitar os meus blogs de referência). E ainda tive o enorme prazer de conhecer pessoalmente vários destes “amigos virtuais”, como o Abraão, o Filinto, a Guida, o Tide, a Soraia, a Eury, o Val, o Benvindo, o João Branco, o Kaká Barbosa, o César, a Velu, o Djinho… O Olavo, o Djoy, a Vivianne, o Afonso e a Guida Mascarenhas já os conhecia, mas estabeleceram-se outras dimensões de relacionamento aqui na “blogosfera”.


Por último, porquê encerrar o blog numa Segunda-feira? Sei lá! Se calhar porque – ao contrário de M’nininha de Soncent (rsss) – sempre tive uma certa predilecção pela Segunda-feira depois do fastio dos Domingos à tarde. Se calhar porque no meu íntimo sempre esteve esta coisa masoquista de “matar o blog” numa Segunda-feira de Agosto. Se calhar porque o número 11 tem algum significado místico que ainda não descortinei, para além do “Léla” como o bradávamos nos jogos de loto lá em Fajã…


A todos, um muito obrigado sincero pelas visitas e pelos momentos de partilha. Um abração amigo,


Paulino

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Pressa...


Às vezes acordo com uma profunda sensação de pressa. Como se, do nascer do dia ao bater das doze badaladas da meia-noite, tudo fosse uma espécie de dança cósmica sob a batuta de um ponteiro de relógio. E nem posso dizer – como o Vinicius – que “minha existência sem ti, é como olhar para um relógio apenas com o ponteiro dos minutos”.


Tenho pressa, confesso. Tenho pressa de amar – antes que morra em mim a poesia. Tenho pressa de me lambuzar na lua cheia – antes que sucumba o adolescente eternamente apaixonado pelas coisas belas da vida. Tenho pressa de apreciar o quadro do Olavo na parede da sala – antes que me desapareça a ternura pelo azul. Tenho até pressa – caramba! – de escrever meu último poema (o tal que será um panfleto, para que depois possa seguir em paz com os deuses todos cá da freguesia), de rabiscar meu último discurso, de assobiar minha última canção aqui na varanda com o velho violão a tiracolo.


Já me dizia em tempos o Aristides, que em mim tudo foi precoce, tudo é precoce: o primeiro choro, as primeiras letras, o primeiro canudo, a primeira aliança, o primeiro adeus, e até o primeiro silêncio entre quatro paredes sós. No meio de duas gargalhadas, ficou o arrepio pela espinha. Será também precoce – chiça! – a partida e o tal desejo de fugir?


Talvez por isso, este relógio a martelar-me incessantemente o ombro esquerdo. Compreendes agora, minha amiga, esta pressa de amar os teus olhos caboverdeanamente verdes?


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Com este calor dos diabos aqui na cidade grande, o que eu queria agora era...

… como diria o vizinho Café Margoso – e bô?

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segunda-feira, 4 de agosto de 2008

sábado, 2 de agosto de 2008

Hoje apetece-me poesia...


Hoje, com este Sol de Sábado a lavar-me o rosto pela fresta da cortina, apetece-me poesia. Lambuzar-me todo de poesia, barbear-me em poesia, escovar os dentes com poesia enquanto me espreita o moço do outro lado do espelho com uma inexplicável alegria na retina dos olhos. Hoje – não há pilha de corpos esqueléticos em pós-agonia nem Deus nenhum que me impeçam! – vou embebedar-me de poesia…


Abro ao acaso A cabeça calva de Deus só para saber pelo Corsino que


“Mulher! Quando o céu da tua boca

Arrasta o corpo da terra

.................Até a goela da água longínqua

A febre conta no arco-íris

..............................Da carne que sangra

..................A montanha roída dos dentes…


E da cicatriz da mão

.................................brotam raízes

Que vicejam a memória dos séculos…”


Convence-me o Valentinous logo depois que também eu – sem o saber, caramba! - tenho o infinito trancado em casa. Segreda-me devagar ao ouvido (quase num sopro),


“Sabemos o que Deus no céu achou.

Não sabemos é do que na terra anda à procura”


Poesia, Velhinho, poesia. Ele por cá, anda à procura é de poesia, moço! Depois que Adão fez cagada lá no Paraíso e o soldado romano trespassou Seu filho com a lança, só a poesia é capaz de lhe curar a dor, digo-te.


Ah!, podem vir agora as deusas todas de navalha em punho para me dilacerarem a carne. Podem vir as hordas de bruxas e feiticeiras com suas poções, suas maçãs envenenadas! Podem vir!


“Eu estarei de mãos postas

à espera do tesouro que me venha na onda do mar,

E minha principal certeza

é o chão em que se amachucam os meus joelhos doloridos…”



("Ilha encalhada" - Foto de PD)